A minha cidade
Saio de madrugada. O nevoeiro esconde a paisagem, as ruas estão sós, não há barulho. Alguns (poucos) madrugadores caminham devagar pelos passeios, irreconheciveís, como se andassem numa cidade deserta.
A meio da manhã, a vida, a cor, o barulho, e o movimento tomam o destaque do nevoeiro.
Passo pelo Martim Moniz, olho à minha volta, falam-se pelo menos seis línguas diferentes. Encontro pessoas de vários sítios, que tranformam aquele local num mosaico onde as culturas se encontram.
O frio atravessa-me o corpo. As mãos (apesar de cobertas por luvas grossas) estão geladas, o nariz pinga, e a minha respiração vê-se no ar. Entro no metro são apenas duas paragens, mas serve para me aquecer.
De volta à rua (ainda mal aquecida) encontro agora uma cidade cheia. As pessoas caminham apressadas, como se vivessem a correr, com sacos ou papéis nas mãos, sempre a olhar para o relógio.
Ao mesmo tempo e num mesmo lugar, mendigos pedem esmolas, jovens abordam os que passam para vender algo, o vendedor de castanhas aquece as mãos, um pai segura a filha que lhe foge para brincar, senhoras elegantes passeiam-se com sacos de compras...e a música de Natal toca sem que se dê por ela.
Penso nos contrastes que encontro na cidade onde nasci e sei que são "apenas" um espelho do país. Só que assim os números da pobreza e da riqueza têm cara...
Um vendedor da Cais vende-me uma revista. Reconheço a cara. Vi-o num programa a falar de como tinha recuperado a vida.
O meu corpo continua frio, mas a esperança aquece-me o coração.
À medida que o dia avança, a cidade ilumina-se. As vidas continuam as mesmas, porém as ruas por onde passam têm mais brilho.
Cedo à tentação e como um gelado que me faz sentir como se estivesse num país do Norte da Europa.
Dou as boas-vindas à estação! Na minha cidade iluminada pelas luzes e pelas estrelas (umas mais felizes que outras).
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