Revolução Ardente
Margarida e João voltam, mais de 30 anos depois, a Paris. A cidade, onde, pela primeira vez, se encontraram.
Juntos, de mãos dadas, em frente ao Café onde pela primeira vez os seus olhares se cruzaram, recordam os beijos sentidos.
A cidade Luz, essa, está diferente. Mas, nada se pode comparar ao que viveram durante o mês mais quente do fim da década de 60.
Foi no meio do campo de batalha que, lentamente se foram unindo um ao outro. A guerra que viviam, os ideais que partilhavam, o passado comum que tinham, tornaram-nos íntimimos. Como só o amor pode tornar.
João rumou a Paris no meio do calor da clandestinidade. Sim o calor. Era assim que definia os seus tempos de homem sem identidade. No meio do silêncio, havia um calor humano que tornava possível a resistência. Foi esse calor que encontrou em Margarida.
Também ela uma mulher em fuga. Em fuga de um país, que vivia mergulhado no medo e no terror.
La Participation, tornou o possível o encontro dos seus ideais. E deles próprios.
Numa altura em que as portas se abriam, e as vozes se faziam ouvir mais alto, foi com naturalidade que surgiu a primeira conversa.
Guardam na memória, o tempo onde foram genuinamente felizes. Deram-se um ao outro. Inteiramente. E souberam que seria assim, para sempre.
Outras lutas se atravessaram no caminho, feito a partir daquele dia, a dois. E foi para lutar que regrassaram à pátria, mas desta vez livre.
Juntos descobriram o país escondido, nos primeiros dias de Liberdade. Juntos participaram, como haviam aprendido em França, naquilo que queriam mudar.
Partiram de peito aberto para uma aventura. Guiados, sempre, pela mais pura das ideologias. Aspirando sempre à eterna liberdade.
Ao longo dos anos foram muitos os que passaram para o outro lado do muro. Os que deixaram de acreditar. Os que se resignaram. Os que se acomodaram. Os que desistiram de lutar.
É na tristeza, e no desepero, não admitido, que Margarida e João regressam a Paris. Ao passado. Onde vão buscar o «porquê» de continuar.
Perderam as batalhas, mas não a guerra.
Há mãos que continuam dadas.
Há beijos que continuam ardentes.
Há revoluções que continuam!
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