Conhecer de cor
Entrou em casa cansado. Num gesto mecânico pousou a pasta ao pé do móvel da entrada. Atirou as chaves para cima do cinzeiro. Despiu o casaco, ao pendurá-lo não reparou que caiu no chão. E começou a subir as escadas.
À medida que ia subindo reparava nas fotografias na parede, sem dar por isso, ia desapertando a gravata, como se se estivesse a libertar do trabalho.
Chegou ao hall do primeiro andar, parou e ficou a olhar-se ao espelho por uns segundos. Espreitou o quarto da bébé e viu que ela dormia profundamente. Descalçou-se, abriu a porta devagar, e caminhou silenciosamente até ao berço para a ver. Leonor dormia de lado, tinha afastado todos os bonecos depois de ter caído no sono, a chucha tinha também fugido para o outro lado da cama, mas continuava com a boca aberta, e o edredón estava aos pés da cama. Acongegou-a, meteu-lhe a chucha na boca, e despediu-se com um beijo na testa.
Saiu do quarto com o mesmo cuidado com que entrou, atravessou o hall e espreitou a mulher a dormir no quarto. Helena estava vestida e maquilhada, via-se que se tinha deitado para dormir apenas por uns minutos... O chão estava cheio de papéis que tinhm caído, quando adormeceu. Como a filha, também dormia de lado. Nas mãos ainda segurava o livro que lia.
Entrou. Continuou a olhá-la. Esboçou um sorriso. Pegou-lhe no pé em jeito de brincadeira, como costumava fazer nos tempos de faculdade em que ela adormecia a estudar. Helena emitiu um som: Hum, era o seu jeito ensonado de lhe dizer olá.
Tirou a gravata e atirou-a para o chão. Lentamente, começou a subir para cima da cama. Beijou-a atrás da orelha, sabendo que ela tinha cócegas. Virou-se, e com os olhos fechados, juntou os lábios para o beijar, fazendo uma cara tão ridícula, que os dois se começaram a rir. Em vez do beijo, Pedro juntou o nariz frio dele na bocheicha quente dela. Disse um pequeno ai e deu-lhe uma palmada no braço. Continuaram a rir.
Por fim, beijaram-se. Sussurrou-lhe ao ouvido: Já cheguei! Helena respondeu-lhe: Eu sei, ouvi-te chegar. Sei que foste ver a Leonor. Imagino que a tapaste e que lhe deste um beijo de despedida na testa. Deves ter deixado o caso do chão do hall lá de baixo, e a gravata deve andar algures no chão deste quarto. Pedro ficou a olhar para a mulher. Conheço-te de cor! - Afirmou ela.
Deitou-se ao lado dela, puxou a manta. E ficaram assim, os dois, juntos.
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