Coisas de miúda

"E pra começar eu só vou gostar De quem gosta de mim" Caetano Veloso

sábado, outubro 16, 2004

Conhecer de cor

Entrou em casa cansado. Num gesto mecânico pousou a pasta ao pé do móvel da entrada. Atirou as chaves para cima do cinzeiro. Despiu o casaco, ao pendurá-lo não reparou que caiu no chão. E começou a subir as escadas.
À medida que ia subindo reparava nas fotografias na parede, sem dar por isso, ia desapertando a gravata, como se se estivesse a libertar do trabalho.
Chegou ao hall do primeiro andar, parou e ficou a olhar-se ao espelho por uns segundos. Espreitou o quarto da bébé e viu que ela dormia profundamente. Descalçou-se, abriu a porta devagar, e caminhou silenciosamente até ao berço para a ver. Leonor dormia de lado, tinha afastado todos os bonecos depois de ter caído no sono, a chucha tinha também fugido para o outro lado da cama, mas continuava com a boca aberta, e o edredón estava aos pés da cama. Acongegou-a, meteu-lhe a chucha na boca, e despediu-se com um beijo na testa.
Saiu do quarto com o mesmo cuidado com que entrou, atravessou o hall e espreitou a mulher a dormir no quarto. Helena estava vestida e maquilhada, via-se que se tinha deitado para dormir apenas por uns minutos... O chão estava cheio de papéis que tinhm caído, quando adormeceu. Como a filha, também dormia de lado. Nas mãos ainda segurava o livro que lia.
Entrou. Continuou a olhá-la. Esboçou um sorriso. Pegou-lhe no pé em jeito de brincadeira, como costumava fazer nos tempos de faculdade em que ela adormecia a estudar. Helena emitiu um som: Hum, era o seu jeito ensonado de lhe dizer olá.
Tirou a gravata e atirou-a para o chão. Lentamente, começou a subir para cima da cama. Beijou-a atrás da orelha, sabendo que ela tinha cócegas. Virou-se, e com os olhos fechados, juntou os lábios para o beijar, fazendo uma cara tão ridícula, que os dois se começaram a rir. Em vez do beijo, Pedro juntou o nariz frio dele na bocheicha quente dela. Disse um pequeno ai e deu-lhe uma palmada no braço. Continuaram a rir.
Por fim, beijaram-se. Sussurrou-lhe ao ouvido: Já cheguei! Helena respondeu-lhe: Eu sei, ouvi-te chegar. Sei que foste ver a Leonor. Imagino que a tapaste e que lhe deste um beijo de despedida na testa. Deves ter deixado o caso do chão do hall lá de baixo, e a gravata deve andar algures no chão deste quarto. Pedro ficou a olhar para a mulher. Conheço-te de cor! - Afirmou ela.
Deitou-se ao lado dela, puxou a manta. E ficaram assim, os dois, juntos.