O Sindicato dos Deuses
São 9 horas em ponto. Na sala branca em forma oval, um relógio de vidro dá as 9 badaladas que anunciam o começo da reunião.
Os ajundantes de cada um dos Deuses verificam se está tudo pronto. Cada Deus tem exigências específicas, e cabe aos seus ajudantes satisfazê-las.
No centro da sala uma mesa de vidro redonda, no meio está um portal que permite que os Deuses observem o que se passa com os seus fiéis. Num segundo círculo dessa mesa, cada Deus tem um pequeno ecrã que faz com possam ver, individualmente, o que se passa no céu e inferno de cada um. Não utilizam papéis, pois são Deuses, representantes supremos de cada religião e como tal tem uma memória infinita.
À medida que vão entrando e ocupando os seus lugares na grande sala, cá fora os seus ajundantes fazem comentários acerca da reunião."É um momento histórico!" - comenta Barnabé ajudante número um do Deus Católico.
É de facto uma reunião histórica. Desde os primórdios da humanidade que todos os Deuses não se reunião à mesma mesa.
Quando a Entidade Suprema criou o mundo, entregou a cada Deus poderes diferentes. Mas devido a intrigas e invejas, estes decidiram que cada um devia angariar o maior número de fiéis possíveis.
Findo o poder unificador da Entidade Suprema, vários Deuses foram reinando, muitos envolveram-se em disputas e outros chegaram mesmo a reformarem-se por terem sido substituídos pelos rivais, como aconteceu a Zeus ( que ainda hoje vive triste e sozinho numa nuvem distante).
Depois de biliões de anos separados e de terem percorrido caminhos distintos tomaram a decisão de se encontrarem para resolverem um problema comum: a falta de fiéis.
Alá foi o mais relutante em aceitar, já que é o único que tem seguidores que por ele dão a vida. No entanto as tentações de um outro mundo fazem-no perder em média 5 homens por semana.
A ideia partiu do Deus Judeu, cada vez mais ultrapassado e com um enorme déficite de clientela fervorosa.
Assim, que durante 10 anos prepararam-se para esta reunião.
Existe uma porta enorme de aço pintada de branco que separa os Deuses dos seus ajundantes. Estes encostam-se à porta na esperança de ouvir qualquer coisa.
Mas doutro lado só se ouve o silêncio. Estão sentados uns em frente aos outros sem proferirem uma só palavra.
Até que por fim o Deus Ortodoxo decide abrir a reunião. Então decidem falar todos ao mesmo tempo, achando que têm mais direitos e poder uns sobre os outros.
Os ajudantes atrapalhados e prevendo que o fracasso resultasse daquela reunião decidem chamar alguém respeitado no meio, para impor o respeito e moderar a reunião: Afrodite, antiga Deusa grega do amor (por quem todos tiveram um fraquinho).
A presença de Afrodite acalmou os ânimos e ordenou a reunião. Os Deuses poderam expor os seus problemas e confrontar ideias. E assim, os insultos e acusações foram dando lugar ao consenso.
Todos chegaram à conclusão de que o ser humano do século XXI está cada vez mais afastado da religião. E tudo isto, depois do fim do comunismo, que traria a princípio uma maior adesão.
"Mas qual a solução para resolver isto se ninguém nos ouve?" - exclamou Jeová!
"Devíamos arranjar uma forma de expôr os nossos problemas!
Depois de mais umas horas de conversa chegaram a uma decisão. Agradeceram a Afrodite, e pediram-lhe que mandasse entrar os ajudantes para lhes comunicarem a decisão.
Já com a sala cheia, proclamam uníssono: "Vamos formar um sindicato dos Deuses!"
E foi assim, que numa nuvem distante há muito pouco tempo foi criado um sindicato dos Deuses.
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