Coisas de miúda

"E pra começar eu só vou gostar De quem gosta de mim" Caetano Veloso

terça-feira, setembro 07, 2004

Keep on rocking in the free world

Fahernheit 9/11


Este parece ser o filme que a direita gosta de criticar antes mesmo de ter visto. Apelidando de propaganda ideológica e de falta de objectividade.

Moore fez um documentário ao seu estilo. Criticou Bush. Criticou a Guerra do Iraque. Criticou a administração republicana. Mostrou as relações entre a família Bush e a família Bin Laden. Mostrou momentos menos felizes do Presidente Norte-Americano. E deu a conhecer as razões que levam jovens americanos a alistarem-se nas forças-armadas e a matar ao som do refrão "die mother fucker, die".

Pois, até aqui nada de novo. Para nós europeus as relações entre as duas famílias eram motivos de comentários, e todos nós temos a noção da crise de valores que se vive na América que leva jovens de bairros degradados a alistarem-se no exército a troco de educação e de uma vida melhor. E não se comentava à boca cheia, logo a seguir às eleições, que o filho do Bush até não devia ter tido mais votos que o outro?
Mas, para os americanos esta é uma realidade desconhecida. Não faz parte do american dream, talvez por isso, o filme de Moore não seja um produto da indústria de Hollywood. Não vende sonhos, vende a realidade.

Moore não é objectivo. Mas, a objectividade ninguém lha pediu. Não é jornalista não está obrigado a segui-la, no entanto ninguém critica as posições subjectivas pro-bush dos jornalistas americanos. Fez um documentário de autor, deu a sua opinião. Engraçado é que os que o criticam de sectarismo não achem estranho que a Disney, sediada na Florida- estado-governado-por-Jeff Bush-irmão do Presidente, tenha querido proibir a exibição do filme. Moore tem direito à sua opinião e tem direito a expressá-la da maneira que entender, desde que esteja dentro da lei. Há um ano atrás foi feito um filme sobre o 11 de Setembro, que punha Bush como o herói relutante da história. Sendo o grande salvador da nação. Aliás, depois dos vídeos populistas contra Kerry e a forma vergonhosa como é criticada a sua medalha "ganha" no Vietname, George Bush (que se safou da guerra) devia ficar calado.

O contéudo do filme do Moore não foi uma completa surpresa. Só que lá está tudo explícito.
Acreditando nos princípios fundamentais da América, de que a Liberdade é o maior bem, Michael Moore é livre de produzir o que quiser, de fazer campanha por quem quiser, e de criticar quem quiser.

Mas, para que eu tivesse a liberdade de escolher ir ver Fahernheit 9/11, o Festival de Cannes teve de lhe atribuir o prémio máximo. Como se fosse um certificado de visionamento no mundo livre.

Das lágrimas ao riso num instante, afinal, o que ali está é real. Há mães que choram os filhos. Há uma data de jovens estropiados. Há uma data de jovens que daqui a uns anos terão os seus cérebros esgotados. Há uma data de iraquianos a serem torturados nas prisões. Há uma meia dúzia de gente louca e interesseira a governar o mundo.

Na vida como no filme: Keep on rocking in the free world!


PS: Por acaso o filme até está bem feito.