Gelado de Verão
Trago sempre imagens dos países que visito. Como aquelas fotos a preto e branco dos Diários de uma motocicleta - as imagens que o Che reteve da América Latina.
Esta é uma delas.
Conheci o M., um miúdo de 10 anos, que vendia balinha na praia dos Suristas em Pipa.
Era uma típica criança de 10 anos. Gostava de jogar à bola depois da escola, de brincar com os amigos... Mas, aos fins-de-semana tentava vender balinha aos turistas na praia. Pelas vendas recebia um real, que juntava para comprar material escolar quando fosse preciso.
A meio da conversa, e depois de dizer que não tinha fome, comentou onde se vendiam sorvetes. Perguntei-lhe qual queria, ele disse-me que qualquer um.
Levei-o comigo e deixei-o escolher. Reparei que os olhos dele brilhavam à medida que escolhia os sabores. Comentou-me com um ar ingénuo, que, só escolhia 3 sabores, porque o copo não agunetava mais e os outros podiam cair. (Lembro-me do gesto que fez com as mãos para explicar.)
Enquanto esperávamos pelo gelado, perguntei-lhe o que queria ser. Olhou para os homens que trabalhavam no restaurante da praia, e disse que queria ser doutor, porque não queria ter uma vida dura como a daqueles homens. Achei "piada" à percepção da realidade que ele tinha.
Agarrou no copo com o cuidado característico dos miúdos carentes, que não estam habituados a comer um gelado todos os dias.
Percebi pela maneira como comia que aquele gelado era um luxo.
Quando acabou veio ter comigo, com os bigodes do gelado, e disse-me: Moça o sorvete era muito bom!
O gelado não era nada de especial e eu nem sequer o provei, mas ao ver o M. a comê-lo, posso dizer que foi o gelado que melhor me soube.
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