Coisas de miúda

"E pra começar eu só vou gostar De quem gosta de mim" Caetano Veloso

sábado, dezembro 27, 2003

Observação


Nos últimos dias tenho vivido a correr. Sinto que foi a vida que passou por mim, e não eu que passei por ela.
Segunda feira depois de fazer a minha última compra de Natal, decidi observar as pessoas com quem me cruzava para ver como andavam nesta época. Lembrei-me então, de uma conversa numa "viagem" de metro que fiz uma vez com a minha melhor amiga. Ela comentou-me, nessa altura, que o metro era o local onde se encontrava mais facilmente gente de todos os "lugares". Com um ar espantado olhei à minha volta e veriquei que numa mesma carruagem se encontravam pessoas dos cinco continentes e de todos os estratos sociais.
Assim, escolhi o metro para "medir" o espírito natalício das pessoas. Durante a minha viagem entre a Baixa e a Alameda sentaram-se ao pé de mim pesssoas muito diferentes.
Primeiro, duas jovens (muito jovens) mães com os seus rebentos. Tinham um aspecto muito simples, as mãos estavam calejadas e sujas do trabalho, os bebés vestiam roupas usadas, nitidamente doadas por uma instituição de caridade, e não andavam (como eu andava) carregadas de sacos de compras. Não tinham estudos, nem oprtunidades na vida, e certamente não percebiam nada de economia mas falavam, da maneira mais clara que eu já ouvi, de como a crise afecta as pessoas.
Depois foi a vez de dois emigrantes brasileiros. Vinham vestidos do trabalho, decerto esforçado, com um ar nada feliz. A maior "riqueza" que possuíam era um telemóvel comprado a meias para ligar para a família. Não falaram muito, e logo se levantaram para deixar sentar um casal de velhotes.
O casal de velhotes, apenas "me acompanhou" um estação. Mas foi o suficiente para pensar que se um dia eu me casar também quero dar as mãos tantos anos depois.
Por fim, um jovem executivo de fato e gravata ocupa a cadeira vazia ao lado. Vinha com sacos de compras, feitas à pressa e claramente impessoais. Não fez um sorriso, não disse uma palavra. Não estava à vontade e andar de metro deve ter sido uma aventura!
Chego a duas conclusões:1- a Andrea tinha razão, encontramos toda a gente no metro; 2- e só é pena que a maioria não seja tenha uma existência feliz.