Coisas de miúda

"E pra começar eu só vou gostar De quem gosta de mim" Caetano Veloso

sexta-feira, outubro 22, 2004

" A Coragem de Recusar"

No meio de uma nuvem de pó mulheres com os filhos ao colo correm sem sentindo, como se estivessem a fugir mas não existisse um lugar que as protegesse.
Os gritos tornam-se irrelevantes perante os corpos mortos espalhados pelo chão. Figuras autoritárias tentam impôr a sua ordem como se de vidas humanas não se tratasse.
Quando alargo o olhar do local vejo que não há mais nada para além da guerra.

Sempre que falo ou penso na Palestina, é esta a imagem que vem isntantaneamente à cabeça. É curioso mas nunca me lembro que aquela é uma terra sagrada para tantas religiões.
Deve ser ironia da vida, a terra prometida ser o palco de um conflito sem fim.

Sei antecipadamente sobre o que são as notícias vindas do Médio-Oriente. Ou são os homens-bomba que matam indiscrinadamente, ou são os tanques israelitas que invadem os territórios palestinianos como se estivessem a colonizar um país.

Foi por isso com surpresa e agrado que tomei conhecimento da "Coragem de Recusar".

A coragem de recusar é um movimento constituído por 600 militares, incluindo comandos e pilotos da Força Aérea, mais de 200 dos quais já passaram pela prisão por não aceitar missões militares fora das fronteiras de Israel. Apela a uma desobediência ética baseada no direito individual de interpretação da injustiça de uma guerra.
Na carta dos combatentes que lhes serve de manifesto declaram o seguinte: "sempre servimos nas linhas da frente e fomos e seremos os primeiros a desenvolver missões de modo a proteger o Estado de Israel e a reforçá-lo".

Estes cidadãos israelitas- judeus- militares- sionistas, trazem para a guerra um novo tópico a consciência moral.

Só a Coragem torna possível Recusar.
Só a mais nobre das convicções torna possível a coragem.

A "Coragem de Recusar" honra a herança de Rabin, a democracia, a paz. Mostra que, neste século, a cidadania é uma das mais importantes formas de luta e que não se pode vergar a nenhuma instituição.

Talvez seja da minha idade, da inocência, do meu estado de espírito, ou até mesmo da utopia que secretamente teimo em acreditar, mas, a Coragem de Recusar trouxe me esperança.

PS: A Coragem de Recusar foi proposto, este ano, para Prémio Nobel da Paz. Entre os seus proponentes estão Ximenes Belo e Rigoberta Menchu. Dois defensores de causas perdidas que acabaram por ser ganhas – a independência do povo de Timor Leste e a defesa pelos direitos dos índios na América Central.