Noites de Insónias
Não são raras as minhas noites de insónias.
Normalmente faço uma incursão pelas séries televisivas. Histórias do século passado, onde o argumento se resume a cinco linhas.
Numa das primeiras noites do ano, durante o meu zapping viciante, paro numa reportagem-documentário sobre as prisões indianas.
Estava simplesmente a passar por lá. Não tinha vontade de ficar. Estou atenta ao que se passa no 3º Mundo, mas nem sempre tenho a coragem de ver.
Acabei por ficar.
Mostrava um dia de sol. Um jardim onde um pai ia abraçar a filha depois de dois anos sem se verem.
Por uma qualquer não razão a família estava toda presa.
A filha mais nova tinha ficado com a mãe no lado feminino. No reencontro com o pai e com o irmão mais velho, havia alguém com ar superior, que dizia que a menina tinha de ir para a escola. Os pais não queriam. Achavam-na muito nova.
Fiquei irritada com a atitude. Não compreendi o egoísmo dos pais.
Numa segunda conversa, a pessoa de ar superior, falava a sós com a mãe sobre a ida da filha para a escola. Perguntava-lhe num tom arrogante porque não queria que a filha fosse para a escola.
A mulher levou as mãos à cara e chorou. Num gesto incrivelmente simples e doloroso (que nunca conseguirei descrever aqui), respondeu que não queria que fosse porque ia ter saudades. Sabia que longe não a ia conseguir proteger.
Foi a primeira vez, que a vi como mãe.
O ar envergonhado com que respondeu fez-me compreender o medo que revelava nas palavras. Isso comoveu-me.
São estas as "imagens" que me movem para procurar um lugar melhor do que este em que nos encontramos agora.
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