Ontem, hoje e sempre
Naquela madrugada a minha existência não era sequer sonhada. Não ouvi o Maia no Carmo, não gritei liberdade nem respirei de alívio à medida que os presos políticos iam sendo libertados. Não me emocionei com as primeiras cantigas do Zeca em Liberdade.
As minhas memórias de Abril chegaram mais tarde. Quando descia a avenida da Liberdade ao colo dos meus pais. Para mim era um dia giro: gritávamos todos e no fim eu comia um gelado. Sabia que era o dia da Liberdade, o que na minha cabeça de criança significava que todos os outros não o eram.
O 25 de Abril não acabou no dia 26. Em casa prepetuamos as memórias dele todos os dias: na justiça social, na igualdade de sexos e raças, na discussão política livre. Mesmo assim, continuo a sair à rua nesse dia. E no meio da avenida quando olho para trás revejo os meus momentos de miúda...