Coisas de miúda

"E pra começar eu só vou gostar De quem gosta de mim" Caetano Veloso

sexta-feira, julho 30, 2004

Férias

 
As férias... estão a chegar... YES!!!!! FINALMENTE!!!
E não... Não vou contar para onde é que vou. Nem vou escrever durante este mês. Sim, porque como boa portuguesa que sou faço férias no mesmo mês que o resto do país. Não é que perfira, mas não tenho outra hipótese.

E antes de ir de férias uma confissão: vou sentir saudades do blog. Sim, vá podem-se rir. A sério que vou. Mas, vai fazer bem estar sem Primeiro-Ministro, sem faculdade, sem fogos, sem notícias....

As novidades das férias, e as paisagens que vou descobrir este Verão, conto quando regressar.

Até lá!

 
PS: Em Setembro regresso em FORÇA.

terça-feira, julho 27, 2004

O que é a tragédia?

O que é tragédia?
O Presidente George W. Bush foi visitar uma escola primária e entrou em uma das salas de aula. Os alunos estavam no meio de uma discussão sobre palavras e os seus significados. 
A professora perguntou se o Presidente queria  participar na discussão sobre a palavra "tragédia". 
Assim, Bush pediu à turma que dessem um exemplo de uma "tragédia". Um menino pequeno levanta-se e diz: 

- Se meu melhor amigo e vizinho estiver brincando na rua e for  atropelado por um carro, isto seria uma tragédia ?

- Não. - disse Bush - isso seria um ACIDENTE. 

Uma menininha levanta a mão:


- Se o autocarro  escolar com 50 crianças cair numa ribanceira, matando toda a gente, isso seria uma tragédia? 

- Penso que não. - explicou o Presidente - Isso seria o que chamamos de UMA GRANDE PERDA. 

A sala ficou em silêncio. Nenhuma outra criança se apresentou com um novo exemplo.
O Presidente Bush ainda perguntou: 

- Alguém mais gostaria de dar um exemplo? 

Finalmente ouviu-se uma voz vinda do final da sala de aula. Um garotinho levanta a mão e diz baixinho : 

- Se o avião presidencial, levando o Sr. e a Sra. Bush, for atingido por um míssil e explodir em pedacinhos por uma acção terrorista do Bin Laden, isso seria uma tragédia ? 
- Fantástico ! - exclama Bush - você está certo. E você pode me dizer POR QUE seria uma TRAGÉDIA? 

- Bom. - diz o garotinho - porque não seria um acidente e certamente não seria uma grande perda. 

Repassem para o mundo inteiro .... 

segunda-feira, julho 26, 2004

Um poeta

Há uns tempos atrás deram-me a conhecer o poeta João de Mancelos. Agora posso dizer que o descobri.
Já há muito tempo que não faço as sugestões da semana... Não tenho tido tempo, não adianta arranjar desculpas, a vida é mesmo assim.
Por isso, vou fazer-vos uma grande sugestão. Descubram João de Mancelos aqui

Afinal, para conhecer poesia nada melhor do que conhecer os poetas.
  
 
É ESTA A NOITE
Esta noite há talvez luar,
cometas e gafanhotos de asas de prata
preenchendo todo o céu.
Esta noite,
provaremos desse fruto
estranho às aves,
apenas consentido
à mordedura dos poetas,
no ardor de um qualquer Maio.
Esta noite,
todos os relógios
do mundo serão nossos:
esta noite provaremos do amor.

Entre Ausência e Esquecimento , Aveiro, Estante Editora, 1991.

João de Mancelos

domingo, julho 25, 2004

À Janela das Ondas sem Regresso

À janelas das ondas sem regresso
haverá um périplo para os amantes,
uma escala em estrelas antigas?
pergunto e penso em viagens pelas mãos
(nocturnas mãos, insones mãos),
que ancoraram os teus pulsos à memória.
quantas mulheres foram, neste leito,
transatlânticos de prata,
longe, mais longe,
no éter das cidades anoitecidas?
e quantas mais teriam voltado
à grávida respiração dos oceanos
(os fluxos e refluxos do teu peito)?
pergunto e medito e naufrago,
ulisses de ítaca magoado
à janela das ondas sem regresso.

 
João de Mancelos

 
PS: Este blog orgulha-se de citar poesia com a prévia autorização do autor.

sexta-feira, julho 23, 2004

Resta - nos o som e a memória

«Já me tem sucedido fazer as pessoas chorar enquanto eu toco... E eu não compreendia isto, mas depois percebi que é a sonoridade da guitarra, mais do que a música que se toca ou como se toca, que emociona as pessoas.»

Carlos Paredes

Pensamento do dia

Será que estar viciada no msn é um problema, ou uma fase da vida pela qual já devia ter passado?

quinta-feira, julho 22, 2004

In English

Dear blog,

Today I´m very happy. I´ve made my first friend in the world of blogs «blogoesfera» (sorry but I don´t know the word in English).

Thanks to a Neruda fan, from Australia, there is now a  big smile on my face. 
Welcome to world of portuguese blogs.

This poem is dedicated to Bryan and his friend (who translates the posts from Portuguese... today there is no need). 

O tower of light,
sad beauty that magnified necklaces and statues in the sea,
calcareous eye,
insignia of the vast waters,
cry of the mourning petrel,
 tooth of the sea,
wife of the Oceanian wind,
O separate rose from the long stem of the trampled bush that the depths,
converted into archipelago,
O natural star,
green diadem,
alone in your lonesome dynasty,
still unattainable,
elusive, desolate like one drop,
like one grape,
like the sea.

Pablo Neruda

 

 
I also recommend this poet.  Manuel Alegre is a Portuguese man that survived the dictature in Portugal, and is one of my favorite poets.

Who can tame the horses of the wind?     
who can tame this clatter of the prominent thought?     
Who can shut the voice of the sad bell?    
that says inside what is not spoken my country's fury of rest?    
Who can forbid these words of rain?    
that drop by drop write on the window-glasses widow country the pain that goes by?    
Who can hold the fingers spears  
which within the song make the breezes the weapons harps that are needed?

Manuel Alegre


Livreiro da Esperança

  
Há homens que são capazes
duma flor onde
as flores não nascem.
Outros abrem velhas portas
em velhas casas fechadas há muito
Outros ainda despedaçam muros
acendem nas praças uma rosa de fogo.
Tu vendes livros quer dizer
entregas a cada homem
teu coração dentro de cada livro.


Manuel Alegre
 
PS - FINALMENTE!!!!!

Sobre mim

Eu sabia que era uma referência na blogoesfera, mas não o suficiente para postarem sobre mim.
Obrigada!

O Museu da Rádio

Uma notícia do Jornal Público de 1 de Maio de 2004, dava conta que a Rádio e Televisão de Portugal, SGPS vai reclassificar o acervo do Museu da Rádio. Parte da colecção deverá ter por destino o Museu das Comunicações, mas a escassez do espaço disponível poderá ditar o armazenamento, a venda ou mesmo a ida para a sucata da maior parte das peças.

Santana e a Tartaruga

A tartaruga num poste

Enquanto suturava uma ferida na mão de um velho lavrador, o  médico e o doente começaram a conversar sobre Pedro Santana Lopes. E o velhinho  disse: - Bom, sabe...   o Santana é como uma tartaruga num poste... Sem saber o que o camponês quis dizer com aquilo, o médico perguntou o que era isso de «uma tartaruga num poste».

A resposta foi: - Imagine que o senhor vai por uma estradinha e vê um dos postes de uma vedação, de arame farpado, e com uma tartaruga equilibrando-se lá decima. Isto é uma tartaruga-num-poste...

O velho camponês olhou para a cara de espanto do médico e continuou com a explicação:
a) Você não entende como ela conseguiu chegar lá;
b) Você não acredita sequer que ela esteja lá;
c) Você sabe que ela não subiu para lá sozinha;
d) Você sabe que ela não deveria nem poderia estar lá;
e) Você sabe que ela não vai conseguir fazer absolutamente nada enquanto  lá estiver;
f) Então tudo o que temos a fazer é ajudá-la a descer!

quarta-feira, julho 21, 2004

Angel

Spend all your time waiting
For that second chance
For a break that would make it ok
There's always some reason
To feel not good enough
And it's hard at the end of the day
I need some distraction
Oh beautiful release
Memories seep from my veins
Let me be empty and weightless
And maybe I'll find some peace tonight

(Chorus)
In the arms of the angel
Far away from here
From this dark cold hotel room
And the endlessness that you fear
You are pulled from the wreckage
Of your silent reverie
You're in the arms of the angel
May you find some comfort here

So tired of the straight line
And everywhere you turn
There's vultures and thieves at your back
And the storm keeps on twisting
You keep on building the lies
That you make up for all that you lack
It don't make no difference
Escaping one last time
It's easier to believe in this sweet madness
Oh this glorious sadness that brings me to my knees

(Chorus)
In the arms of the angel
Far away from here
From this dark cold hotel room
And the endlessness that you fear
You are pulled from the wreckage
Of your silent reverie
You're in the arms of the angel
May you find some comfort here

You're in the arms of the angel
May you find some comfort here

Sarah Mclachlan

terça-feira, julho 20, 2004

Autocarro

Um dia ele viu-a. Apressada para apanhar o autocarro. Esboçou um leve sorriso, ao ver uma mulher assim tão transparente. Só de a ver uma vez, podia imaginá-la, desorganizada, espontânea, livre...
De repente dá por ele a fazer outro percurso só para a ver apanhar o autocarro. E foi conhecendo- a, aos poucos.
Um dia ela olhou para ele, e sorriu. Ele retorquiu o sorriso. Ela achou piada, e passou-se a esforçar por apanhar aquele autocarro, à hora certa.
Chegavam os dois ao "ponto de encontro", e a primeira coisa que faziam era procurar a cara um do outro. E pouco a pouco foram-se conhecendo.
 
Era engraçado verem-se assim um ao outro. Sem trocarem palavras, apenas sorrisos.
 
Era assim que se evadiam da realidade.

Desabafo II

A mesma rotina. As mesmas caras. As mesmas conversas. Os mesmos gestos cansados a dizer preciso de férias. Os mesmos pensamentos: a praia. O mesmo acordar: a realidade.

Les bourgeois

Le coeur bien au chaud
Les yeux dans la bière
Chez la grosse Adrienne de Montalant
Avec l'ami Jojo
Et avec l'ami Pierre
On allait boire nos vingt ans
Jojo se prenait pour Voltaire
Et Pierre pour Casanova
Et moi, moi qui étais le plus fier
Moi, moi je me prenais pour moi
Et quand vers minuit passaient les notaires
Qui sortaient de l'hôtel des "Trois Faisans"
On leur montrait notre cul et nos bonnes manières
En leur chantant

Les bourgeois c'est comme les cochons
Plus ça devient vieux plus ça devient bête
Les bourgeois c'est comme les cochons
Plus ça devient vieux plus ça devient c...

Le coeur bien au chaud
Les yeux dans la bière
Chez la grosse Adrienne de Montalant
Avec l'ami Jojo
Et avec l'ami Pierre
On allait brûler nos vingt ans
Voltaire dansait comme un vicaire
Et Casanova n'osait pas
Et moi, moi qui restait le plus fier
Moi j'étais presque aussi saoul que moi
Et quand vers minuit passaient les notaires
Qui sortaient de l'hôtel des "Trois Faisans"
On leur montrait notre cul et nos bonnes manières
En leur chantant

Les bourgeois c'est comme les cochons
Plus ça devient vieux plus ça devient bête
Les bourgeois c'est comme les cochons
Plus ça devient vieux plus ça devient c...

Le coeur au repos
Les yeux bien sur terre
Au bar de l'hôtel des "Trois Faisans"
Avec maître Jojo
Et avec maître Pierre
Entre notaires on passe le temps
Jojo parle de Voltaire
Et Pierre de Casanova
Et moi, moi qui suis resté le plus fier
Moi, moi je parle encore de moi
Et c'est en sortant vers minuit Monsieur le Commissaire
Que tous les soirs de chez la Montalant
De jeunes "peigne-culs" montrent nos leur derrière
En nous chantant

Les bourgeois c'est comme les cochons
Plus ça devient vieux plus ça devient bête
Les bourgeois c'est comme les cochons
Plus ça devient vieux plus ça devient c... 
 
 
Jacques Brel

segunda-feira, julho 19, 2004

Avô

Hoje todos nos lembrámos de que dia é. Em silêncio, sem dizermos nada uns aos outros, sabemos que é o teu dia de anos. É também em silêncio que continuamos a sentir a tua falta. Mas, o tempo (esse companheiro) permitiu-nos contar as memórias e vivê-las com os outros. E temos feito isso tantas vezes...
Sucumbiste quando te preparavas para a última caminhada. E foi logo aí que a minha vida teve um enorme vazio. O primeiro vazio. Naquela altura imaginava as histórias que tinham ficado por contar, as conversas que ficaram por ter, os abraços que ficaram por sentir.
Hoje lembro essas histórias, essas conversas, esses abraços, com muita saudade. Agora aconchego com carinho tudo o que vivi contigo. E sei que continuamos em contacto. 
  
Mas sabes avô, eu ainda sinto muito a tua falta.
Sinto tanto...

sábado, julho 17, 2004

Até parece...

Ministros a tomarem posse. Discursos a prometer mundos e fundos para o país. Programas de governo a serem apresentados. Tiazorras de Cascais que se tornam ministras. Tachos que se distribuem pelos amigos.
 
Até parece que houve eleições e que o novo governo vai tomar posse. Ah!.... É verdade! Esqueci-me de um detalhe técnico... É que em Portugal, por causa da estabilidade, salta-se a parte das eleições!

sexta-feira, julho 16, 2004

Post de leitura obrigatória!

Pois é, Jonas. É o governo que temos!

Natureza humana

Portugal está na situação que está (sobre a qual acho que não vale a pena acrescentar muito neste post). O ano académico acabou, mas ainda me falta um trabalho, e melhorias em Setembro.
Mar é coisa que mal vi... E ainda falta tanto para ver...
Deito-me tarde e acordo cedo. Passo o resto do dia ansiosa que acabe para poder ficar de perna estendida sem fazer nenhum.
Invejo os felizardos (cada vez menos neste país) a irem de férias. E imagino-me de havaianas e biquini a «entrar» na praia.
 
A juntar a tudo isto, Santana ainda não parou de aparecer na televisão... Estou a precisar de pré-férias, eu explico: um período de  descanso sem pensar na realidade antes de começar a época de recarregar baterias.
Afinal de contas, sou apenas humana!

Abruptamente

A entrevista de Santana Lopes à SIC, para além de um exercício de simulação política tão exagerado quanto ao Presidente que roça o absurdo - nenhum Primeiro Ministro que se preza se coloca de forma tão subserviente sob a tutela presidencial – mostra, infelizmente, que já começou a revelar-se a marca de água do entrevistado. As únicas coisas que foram ditas de concreto – número de ministérios, descentralização de ministérios, o Ministério da Agricultura em Santarém – são claramente coisas ditas sem qualquer pensamento de fundo, estudo, preparação e ponderação sobre a estrutura do Governo e o modo como se relaciona com o país. São daquelas coisas que são ditas e, depois, se levadas à prática na forma como foram “prometidas”, representam “experiências” com custos enormes. São caras, desorganizam o pouco que funciona e não resolvem problema nenhum.Não, não é má vontade. É que é exactamente isto que é o costume.
 
Pacheco Pereira no abrupto.




Assino por baixo

E Portugal Segue Dentro de Momentos...
 
Por MIGUEL SOUSA TAVARES

Nestas coisas do amor à pátria tenho uma noção um bocado antiquada e simplista: acho que o amor à pátria consiste em estar disposto a servi-la em caso de necessidade sem perguntar primeiro "quanto?", em declarar tudo o que se ganha ao fisco, em votar nas eleições, nem que seja em branco, em defender, por palavras e actos concretos, o seu património histórico, natural e cultural. A onda de histeria patriótica que invadiu o país a propósito do Euro deixou-me meio perplexo, como no dia 26 de Abril de 1974, ao descobrir, igualmente nas ruas, que, afinal, todo o país era composto de resistentes à ditadura. O patriotismo das emoções e das multidões é certamente mais fácil do que o patriotismo dos deveres serenamente cumpridos. Até porque o primeiro dura o espaço de um acontecimento e o segundo a vida toda.
Cavalgando a onda de emoção patriótica, o Presidente Sampaio, lágrima ao canto do olho, condecorou como heróis nacionais e símbolo do tal "patriotismo moderno" que ele propõe os jogadores e técnicos da selecção nacional, que, jogando com todas as vantagens do seu lado, cometeram a proeza de ganhar três jogos à tangente, empatar um e perder dois. E muita gente que inesperadamente se deixou contaminar por essa onda do patriotismo das bandeirinhas acordou passados uns dias para o pesadelo real da moscambilha política cozinhada por Barroso e Santana e consentida por Sampaio. Portugal regressou assim, de um só golpe, à sua triste realidade.
O que há de comum entre Barroso, Santana e Sampaio é que todos três são emanações do mundo partidário, sem correspondência no mundo dos cidadãos. Salvaguardando o passado profissional e o percurso de resistente de Sampaio no antigo regime (que nunca é de esquecer), todos três atingiram o cume da carreira política por sobretudo terem sabido estar no lugar certo e na posição partidária certa, no momento adequado. E, enfim, todos três mostraram estar imediatamente disponíveis para abandonar as funções públicas para as quais haviam sido eleitos, quando no horizonte lhes surgiu a oportunidade de qualquer coisa de melhor ou mais grandioso. Talvez por isso, por essa origem comum no mundo partidário, nenhum dos três terá verdadeiramente percebido a genuína e instintiva revolta surda que os respectivos desempenhos nesta tragicomédia geraram entre tanta gente de bem.
Muitos dos votantes de Sampaio - e até muitos outros que, não tendo votado nele, estavam contudo indignados com o negócio privado que Barroso e Santana lhe propunham - quiseram iludir-se até ao fim, acreditando que o Presidente não caucionaria uma solução que, sendo embora possível e constitucional, era politicamente ilegítima e eticamente chocante. Quiseram acreditar que Sampaio não cederia a esquecer as razões dos que nele haviam votado, sob pena de esvaziar para o futuro qualquer sentido político da eleição presidencial por sufrágio universal. E que não premiaria a indecente deserção do primeiro-ministro, que, saindo de uma demolidora derrota eleitoral, havia jurado publicamente, semanas antes, que entendera a mensagem e iria redobrar esforços ao serviço de uma boa governação. Quiseram acreditar que Sampaio não se tinha comprometido previamente com Durão Barroso - como este deixou bem implícito -, que o primeiro-ministro poderia ir à sua vida sem problemas, que ele ali estaria para aceitar a solução dinástico-partidária que lhe apresentassem, mesmo que ela não tivesse qualquer sustentação, real ou presumida, na vontade dos governados.
Eu - confesso-o com toda a sinceridade - nunca esperei de Sampaio outra coisa que não aquilo que ele acabou por fazer. A sua decisão foi a única condizente com todo o seu passado político em democracia, de homem temente das rupturas, das clarificações, dos conflitos regeneradores. Foi assim o seu mandato na Câmara de Lisboa, tem sido assim o seu mandato em Belém. E se o primeiro acabou porque lhe surgiu a oportunidade da Presidência, o segundo acabou já também, de facto, com o seu suicídio político de sexta-feira passada. O "droit de regard" que diz manter sobre a governação de Santana Lopes não passa de uma tentativa de se iludir a si próprio e mais ninguém. Tudo o que daqui para diante ousar contra esse Governo terá sempre a imagem cruel de uma tardia emenda e de uma inútil tentativa de sossegar retroactivamente a sua consciência. Nunca um Presidente se havia colocado assim nas mãos de uma maioria e de um governo. Sampaio entregou literalmente o jogo; deixou-se destrunfar e destrunfou-nos a nós todos. Com uma agravante: é que o cidadão Jorge Sampaio, que eu sempre respeitei e respeito, independentemente de discordâncias políticas, sabe que caucionou perante o país uma solução que representa o triunfo do oportunismo, do caciquismo partidário e da mediocracia. Ele acaba de entregar a gestão do país e do Estado a quem nunca deu provas de respeitar a gestão da coisa pública, a quem nunca mostrou noção de serviço público e, pelo contrário (basta ter lido os artigos semanais de Santana Lopes no "Diário de Notícias" para o perceber), sempre entendeu o desempenho de cargos públicos como sucessivos trampolins para a sua carreira pessoal.
Ou seja, o mesmo Presidente que, quinze dias atrás, apelava ao patriotismo das bandeirinhas, convoca-nos agora para continuarmos de bandeiras ao alto, a acreditar que a pátria pode ser servida por quem obteve o seu mando pelas piores razões e por quem esgota os seus méritos políticos conhecidos na longa e insidiosa sedução dos "lobbies" e das estruturas partidárias, movidas pela mediocridade e pela ambição.
Leio que dos 109 conselheiros nacionais do PSD, dois fugiram a dar a cara, dois abstiveram-se e 105 votaram a favor de Pedro Santana Lopes para primeiro-ministro. Dezenas ouvi eu num passado recente prometerem guerra sem tréguas à insaciável ambição de poder de Santana Lopes: mas, ou desistiram e se conformaram, aceitando que há momentos em que o partido pode ser mais importante que o país, ou estão já prontos a servir-se das benesses do poder, sob as suas múltiplas e cada vez mais explícitas formas. Leio que o próprio Santana Lopes jurou na RTP que um dos seus vícios é "trabalhar muito" e que deixou "obra feita" em Lisboa. Leio que Durão Barroso anda a seduzir os Verdes europeus jurando que sempre foi ambientalista e a seduzir os sociais-democratas jurando que é contra "a arrogância e o unilateralismo americano" (tê-lo-á dito ao seu amigo George?). Constato, pois, que já vale tudo e tudo será perdoado: as solenes promessas quebradas sem qualquer pudor; os cargos confiados pelos eleitores que se abandonam à primeira oportunidade de benefício pessoal; as mentiras, públicas e notórias, ditas com a maior desfaçatez; a ascensão partidária, rumo ao poder, alicerçada nas promessas feitas a todos os "lobbies" e sustentadas nos dinheiros dos pagadores de impostos; a mais venal confusão entre o Estado, o partido, os escritórios de advogados e os interesses clientelares do orçamento público. Estamos a um passo, a um passo apenas, da fronteira final do "fartar vilanagem".
E constato que vou ter a governar-me na Câmara de Lisboa alguém que nem sei quem é; a primeiro-ministro alguém que apenas se candidatou à Câmara de Lisboa; na presidência da Comissão Europeia alguém que foi o maior derrotado das eleições europeias, alguém que na hora decisiva se pôs ao lado da "arrogância e do unilateralismo" americano contra a Europa e alguém que jurou aos portugueses que não fugia, como o seu antecessor. E na Presidência da República alguém que se esqueceu de quem e porquê o elegeu. Ou seja: ninguém, de facto, me representa e, todavia, eu votei em todas as eleições. Entre mim e esta democracia há qualquer coisa que não bate certo. Ou será entre mim e o "patriotismo moderno"?

 
Hoje no Público

quinta-feira, julho 15, 2004

Outro post roubado

Eu sei que o link está ali ao lado, e que é feio roubar assim posts. Mas, nao resisti.
O post que se segue é do Ricardo Araújo Pereira do Gato Fedorento.


A ESTABILIDADE ESTÁ ESTÁVEL: A estabilidade foi, ao que parece, um factor decisivo na escolha de Jorge Sampaio. E, como é óbvio, a solução de ter um governo chefiado por um homem que, um dia, ameaçou deixar a vida política por causa de um sketch de João Baião, é, indiscutivelmente, a que dá mais garantias de estabilidade. Sobretudo quando comparada com a outra hipótese, a das eleições – essas malandras, sempre a provocarem instabilidade e outros sarilhos. Escuso de lembrar a estabilidade que se vivia neste país no tempo em que só havia eleições de 48 em 48 anos.
Outro argumento forte contra as eleições foi este: nas legislativas, vota-se num partido e é esse partido que deve governar até ao fim do mandato. Aqui, lamento mas discordo. Porque o partido que foi eleito não é o mesmo que vai governar a partir de agora. A maioria elegeu o PSD, e o partido que está no poder desde anteontem é um tal PPD-PSD. Há uma diferença. Não é, objectivamente, o mesmo partido. Dizem alguns: o Santana refere-se ao PSD dessa maneira porque, quando se fez militante, o partido chamava-se PPD; ou seja, ele diz o nome de ambos os partidos em que militou. É argumento que não colhe, porque se Santana Lopes quisesse dizer o nome de todos os partidos em que esteve filiado, teria de dizer MIRN-PPD-PSD.
Em todo o caso, não sou catastrofista. Creio que Santana Lopes pode fazer um bom trabalho. Vi-o a dizer, na SIC, que enquanto houver um desempregado em Portugal, não dormirá descansado. Acredito. Aliás, julgo que é exactamente por isso que aproveita as noites para fazer outras coisas que não dormir. RAP

Liberdade, Igualdade e Fraternidade!

É bom saber que os ideais de 14 de Julho atravessaram o tempo.
É bom saber que tem havido sempre a defender esses ideiais contra todas as lógicas comerciais.
É bom saber que o espírito revolucionário continua vivo.
É bom saber que a Revolução continua!


PS: Este post devia ter sido escrito dia 14, mas por motivos de ordem técnica é publicado nas primeiras horas do dia 15. Quando nascia a Revolução.

quarta-feira, julho 14, 2004

Liberdade, Igualdade e Fraternidade!

É bom saber que no mundo em que vivemos ainda há quem acredite nos ideais da Revolução Francesa.
É bom saber que ainda há quem se continue a bater por eles.
É bom saber que ainda há quem sinta viva a chama da Revolução.
É bom saber que os ideais persistiram à lógica comercial.
É bom saber que a Revolução continua.

La Fête

Viens, fais la fête
Viens dancer toujours
Célébrer l´amour

Séche, tes larmes
Regarde autour de toi
Souris a n´importe quoi

Il faut toucher les choses
Bois ton vin
Sens tes roses

Suis les mots, du poète
Prends la vie
Fais la fête

Viens, vi la valse
Vis l´éclat des jours
Viens chanter l´amour

Ouvre, tes portes
Reçois la vie chez toi
Gonfle ton coeur de joie

Il faut toucher les choses
Bois ton vin
Sens tes roses

Suis les mots, du poète
Prends la vie
Fais la fête

Rodrigo Leão

terça-feira, julho 13, 2004

Cinema

O último cd de Rodrigo Leão é algo que se assiste, e não se ouve.
Assistir a Cinema dá-nos a oportunidade de criarmos, dentro da nossa alma, o filme das nossas vidas.
Eu criei o meu.
Uma história de amor materno, vivido por uma heroína forte e sensível.

Em cinema, a fragilidade da música é rompida por uma voz forte feminina. Como na vida, na qual a fragilidade, inerente à condição feminina, é surpreendida pela força da mulher.

O que os outros dizem dele

«Sossegado, sem pretensões, amigável e discreto: os adjectivos aplicados a José Manuel Durão Barroso não são os habitualmente usados para descrever os políticos europeus de maior sucesso.»
The Independent

«Não é homem para contrariar Jacques Chirac ou Gerhard Schroeder.»
Die Welt

«Isto não é maneira de se escolher o presidente da Comissão Europeia». «O Sr. Barroso pode até revelar-se como a escolha certa para o cargo, mas por agora parece ter sido escolhido por ser o único homem de pé num concurso de bota-fora.»
Financial Times

«A principal característica de Barroso é o facto de não incomodar nem Londres, nem Paris, nem Berlim.»
Zuddeutsche Zeitung

«Foi escolhido mais por ter o cartão do partido certo, por não ter ofendido muito ninguém e por não ameaçar ninguém do que por ter ideias fortes ou grande capacidade de liderança.»
Reuters

«José Manuel Durão Barroso herda um cargo que frustrou políticos de perfil mais elevado: como obrigar os Estados Membros da União Europeia a cumprir as regras.»
Bloomberg

Parabéns!

Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado.
Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,
com os livros atrás a arder para toda a eternidade.
Não os chamo, e eles voltam-se profundamente
dentro do fogo.
– Temos um talento doloroso e obscuro.
Construímos um lugar de silêncio.
De paixão.

Herberto Hélder

Para a C., C., R., G. que fazem anos por esta altura...

La lámpara marina

I

El Puerto
Color de cielo


Cuando tú desembarcas
en Lisboa,

cielo celeste y rosa rosa,

estuco blanco y oro,

pétalos de ladrillo,

las casas,

las puertas,

los techos,

las ventanas,

salpicadas del oro limonero,

del azul ultramar de los navíos.

Cuando tú desembarcas

no conoces,

no sabes que detrás de las ventanas

escuchan,

rondan

carceleros de luto,

retóricos, correctos,

arreando presos a las islas,

condenando al silencio,


pululando

como escuadras de sombras

bajo ventanas verdes,

entre montes azules,

la policía

bajo las otoñales cornucopias

buscando portugueses,

rascando el suelo,

destinando los hombres a la sombra.



II


La Cítara
Olvidada

Oh Portugal hermoso

cesta de fruta y flores,

emerges

en la orilla plateada del océano,

en la espuma de Europa,

con la cítara de oro

que te dejó Camoens,

cantando con dulzura,

esparciendo en las bocas del Atlántico

tu tempestuoso olor de vinerías,

de azahares marinos,

tu luminosa luna entrecortada

por nubes y tormentas.


III


Los presidios


Pero,

portugués de la calle,

entre nosotros,

nadie nos escucha,

sabes

dónde

está Álvaro Cunhal?

Reconoces la ausencia

del valiente

Militão?

Muchacha portuguesa,

pasas como bailando

por las calles

rosadas de Lisboa,

pero,

sabes dónde cayó Bento Gonçalves,

el portugués más puro,

el honor de tu mar e de tu arena?

Sabes

que existe

una isla,

la isla de la Sal,

y Tarrafal en ella

vierte sombra?

Sí, lo sabes, muchacha,


muchacho, sí, lo sabes.

En silencio

la palabra

anda con lentitud pero recorre

no sólo el Portugal, sino la tierra.

Sí, sabemos,

en remotos países,

que hace treinta años

una lápida

espesa como tumba o como túnica

de clerical murciélago,

ahoga, Portugal, tu triste trino,

salpica tu dulzura

con gotas de martirio

y mantiene sus cúpulas de sombra.



IV

El Mar
Y Los Jazmines


De tu mano pequeña en otra hora

salieron criaturas

desgranadas

en el asombro de la geografia.

Así volvió Camoens

a dejarte una rama de jazmines

que siguió floreciendo.

La inteligencia ardió como una viña

de transparentes uvas

en tu raza.

Guerra Junqueiro entre las olas

dejó caer su trueno

de libertad bravía

que transportó el océano en su canto,

y otros multiplicaron

tu esplendor de rosales y racimos

como si de tu territorio estrecho

salieran grandes manos

derramando semillas

para toda la tierra.

Sin embargo,

el tiempo te ha enterrado.

El polvo clerical

acumulado en Coimbra

cayó en tu rostro

de naranja oceánica

y cubrió el esplendor de tu cintura.


V


La Lámpara
Marina

Portugal,
vuelve al mar, a tus navíos,

Portugal, vuelve al hombre, al marinero,

vuelve a la tierra tuya, a tu fragancia,

a tu razón libre en el viento,

de nuevo

a la luz matutina

del clavel y la espuma.

Muéstranos tu tesoro,

tus hombres, tus mujeres.

No escondas más tu rostro

de embarcación valiente

puesta en las avanzadas de Océano.

Portugal, navegante,

descubridor de islas,

inventor de pimientas,

descubre el nuevo hombre,

las islas asombradas,

descubre el archipélago en el tiempo.

La súbita

aparición

del pan

sobre la mesa,

la aurora,

tú, descúbrela,

descubridor de auroras.

Cómo es esto?

Cómo puedes negarte

al ciclo de la luz tú que mostraste

caminos a los ciegos?

Tú, dulce y férreo y viejo,

angosto y ancho padre

del horizonte, cómo

puedes cerrar la puerta

a los nuevos racimos

y al viento con estrellas del Oriente?

Proa de Europa, busca

en la corriente

las olas ancestrales,

la marítima barba

de Camoens.

Rompe

las telaranãs

que cubren tu fragrante arboladura,

y entonces

a nosotros los hijos de tus hijos,


aquellos para quienes

descubriste la arena

hasta entonces oscura

de la geografía deslumbrante,

muéstranos que tú puedes

atravesar de nuevo

el nuevo mar oscuro

y descubrir al hombre que ha nacido

en las islas más grandes de la tierra.

Navega, Portugal, la hora

llégó, levanta

tu estatura de proa

y entre las islas y los hombres vuelve

a ser camino.

En esta edad agrega

tu luz, vuelve a ser lámpara:

aprenderás de nuevo a ser estrella.


Poema de Pablo Neruda dedicado a Álvaro Cunhal quando este estava na prisão.





Encontro com Neruda

Estava a entrar na adolescência quando o encontrei pela primeira vez. Tinha eu 14 anos, tinha ele já desaparecido há muito.
Foi ele que veio ter comigo da primeira vez. Chegou-me através de um artigo de revista. Dei pela primeira vez rosto ao nome que ouvia em casa desde pequena. Era persistente, e veio ter comigo, pouco tempo depois, uma segunda vez. Numa dedicatória de uma professora de português. A partir daí, não consegui viver mais sem as suas palavras.

Sem a ideia romântica da utopia de que ainda existem homens assim.

segunda-feira, julho 12, 2004

Pablo Neruda

A PURO sol escribo, a plena calle,
a pleno mar, en donde puedo canto,
sólo la noche errante me detiene
pero en su interrupción recojo espacio,
recojo sombra para mucho tiempo.

El trigo negro de la noche crece
mientras mis ojos miden la pradera
y así de sol a sol hago las llaves:
busco en la oscuridad las cerraduras
y voy abriendo al mar las puertas rota
hasta llenar armarios con espuma.

Y no me canso de ir y de volver;
no me para la muerte con su piedra,
no me canso de ser y de no ser.

A veces me pregunto si de donde
si de padre o de madre o cordillera
heredé los deberes minerales,

los hilos de un océano encendido
y sé que sigo y sigo porque sigo
y canto porque canto y porque canto.

No tiene explicación lo que acontece
cuando cierro los ojos y circulo
como entre dos canales submarinos,
uno a morir me lleva en su ramaje
y el otro canta para que yo cante.

Así pues de no ser estoy compuesto
y como el mar asalta el arrecife
con cápsulas saladas de blancura
y retrata la piedra con la ola,
así lo que en la muerte me rodea
abre en mí la ventana de la vida
y en pleno paroxismo estoy durmiendo.
A plena luz camino por la sombra.


Pablo Neruda

domingo, julho 11, 2004

What a fuck?

O Pedro disse aquilo que me apetecia dizer...

Hasta Siempre

(Há nesta música um cheiro a praia e a calor, envoltos num ambiente revolucionário que me causa o tão nobre sentimento português da saudade).


Aprendimos a quererte
Desde la historica altura
Donde el sol de tu bravura
Le puso cerco a la muerte


Estribillo:

Aqui se queda la clara
La entraniable transparencia
De tu querida presencia
Comandante Che Gevara


Tu mano glorioso y fuerte
Sobre la historia dispara
Cuando todo Santa Clara
Se despierta para verte


Estribillo

Vienes quemando la brisa
Con soles de primavera
Para plantar la bandera
Con la luz de tu sonrisa


Estribillo

Tu amor revolucionario
Te conduce a nueva empresa
Donde esperan la firmeza
De tu brazo libertario


Estribillo

Seguiremos adelante
Como junto a ti segimos
Y con Fidel te decimos
Hasta Siempre, Comandante


Estribillo

Carlos Puebla

Uma mulher para a história

Cruzei-me com ela quando concorreu para a Presidência da República, nas eleições quentes de 85. Tinha eu praticamente três anos, não me lembro por isso do momento. Sei que subi orgulhosamente ao palco, sem medo das luzes e dos holofotes, entreguei-lhe um ramo de flores, recebi em troca um caloros abraço e beijinhos, e que me comprotei muito bem no meio de muita gente.
O meu cruzamento com Maria de Lurdes Pintasilgo resume-se a isso. Mas a minha admiração por ela continuou no tempo e permanece hoje intacta.

Mulher de fortes convicções. Defendeu sempre os direitos dos mais fracos. Lutou por uma sociedade mais justa, que 30 anos depois do 25 de Abril não viu vingar.

Acabo com as palavras dela para Sophia:
«Não soubéssemos nós que a busca se interrompeu, e diríamos que Maria de Lurdes Pintasilgo continua a sonhar o que sempre desejou:
Um país liberto/ Uma vida limpa/ Um tempo justo»



sexta-feira, julho 09, 2004

Manif. amanhã

MANIF AMANHÃ 19H00
LISBOA BELÉM
CAPITAIS DISTRITO FRENTE GOVERNO CIVIL
NÃO QUEREM O NOSSO VOTO TERÃO A NOSSA VOZ

Conseguiram!

Um país, uma maioria, um Presidente.

Ana Gomes tem «aquilo» que faltou a Sampaio.

A minha primeira desilusão política

A minha primeria desilusão política chama-se Jorge Sampaio.
Anconteceu aos 20 e com quem nunca imaginaria que podia acontecer.

O fim da Esperança

Jorge Sampaio decidiu. Tomou a decisão que achou melhor. Agora nada resta a fazer. Ficará marcado pelas palavras que hoje proferiu. E com elas arrastou o país.

O PS perde o seu melhor líder de sempre. Santana Lopes é Primeiro Ministro. Resta-nos pedir asilo político.

Acabou a Esperança. O país foi tomado pelo populismo.

Evolução na continuidade?

Apesar do que diz José Manuel Barroso, Pedro Santana Lopes e Paulo Portas, Portugal atravessa a maior crise política dos últimos anos.
O Presidente da Républica tem de tomar a mais difícil decisão política de todo o seu mandato, talvez ironicamente, em jeito de despedida.
No entanto, a situação parece ser simples de avaliar. Barroso perdeu as eleições europeias, já não aguenta mais suportar a coligação, sabe que a retoma não está a chegar e o que os próximos tempos continuarão de crise, resumidamente: não tem força para aguentar mais dois anos de mandato. Um mandato ao qual ele disse (várias vezes) que nunca fugiria por estar demasiado comprometido e empenhado com o país.
Assim, aproveitou a primeira (foi a mesmo a primeira) oportunidade para fugir. Guterres havia sido convidado para o mesmo cargo e havia negado. O Primeiro Ministro do Luxemburgo, vencedor nas últimas europeiras foi convidado, mas achou que partir para Bruxelas seria uma traição com o seu país.
A escolha de Barroso para um cargo não eleito democraticamente pelos cidadãos é simples. Cumpriu os requisitos: é de direita; facilmente manipulável; e fala bem várias línguas. Vantagens para Portugal? Só se for markting político. Mas, tudo bem já é pelo menos uma vantagem.
Barroso quer ir que vá. Não pode é deixar o país na embrulhada em que deixou. E não me refiro às políticas erradas que levaram o Portugal para o caminho que se vê, bem ou mal o governo tinha a legitimidade popular para tomar as medidas que tomou (moralidade, isso já é outra história que ficará para outro post).
Para além de ter tomado a decisão de fugir, Barroso tem feito declarações inaceitáveis. Como dizer nunca pensou que fosse causar uma crise política, que não entende a questão das eleições antecipadas. A solução seria simples, adoptava-se uma posição típica do regime ditarial anterior ao 25 de Abril, o Primeiro - Ministro saía, e em sua substituição um colégio restrito de «iluminados» escolhia um novo governante. Seria a evolução na continuidade, como foi com Salazar e Caetano.
A «batata quente» está agora nas maõs de Sampaio, em breve saberemos se Santana é um sapo que só o PSD terá de engolir, ou se será um sapo que todos os portugueses terão de engolir.
Qualquer decisão de Sampaio é viável de acordo com a Constituição (que continua, para mal de Paulo Portas, anti-fascista e anti-colonialista). Não adianta por isso vir dizer que isto ou aquilo será um golpe de estado. Sampaio terá de usar a subjectividade que o cargo lhe confere. Terá de tomar a decisão que nunca desejou fazer.
Espero que sinta a vontade generalizada dos portugueses de legitimar nas urnas o seu Primeiro Ministro.

quinta-feira, julho 08, 2004

Liberdade

"Aqui nesta praia onde

Não há nenhum vestígio de impureza,

Aqui onde há somente

Ondas tombando ininterruptamente,

Puro espaço e lúcida unidade,

Aqui o tempo apaixonadamente

Encontra a própria liberdade."


Sophia de Mello Breyner Anderssen

Já estava escrito

Vivemos a mesma vida sem sabermos. Passámos pelos mesmo locais sem nunca termos cruzado olhares. No meio da multidão gritámos as mesmas palavras de ordem, entusiasmados pelo calor das causas em que acreditávamos.

Vimos de lados tão distintos, e acabámos por nos encontar num ponto comum. Mas, antes disso, já tínhamos trocado tanta coisa. Conhecemos os mesmos lugares, nunca imaginando a distância a que estávamos de voltar a conhecê-los a dois.
Partilhámos a vida, antes mesmo de nos termos visto.

E foi isso que tornou e torna possível, sermos hoje magnificamente íntimos.

terça-feira, julho 06, 2004

E pensar que tudo começou aqui....

... E que toda a gente achava estranho eu ter um blog e passar a vida a falar dele.

Hoje nasceu uma dor no joelho.

Pode ser que sim... Um dia...

Em 1950, o Brasil organizou o campeonato do mundo. Gastou dinheiro, construiu o maior estádio do planeta - o Maracanã, e entusiasmou-se com a hipótese de se sagrar campeão mundial.
Mas tal não aconteceu e ganhou o Uruguai. Depois disso o Brasil já ganhou por cinco vezes a Copa do Mundo.

Pode ser que nos aconteça o mesmo... Quem sabe... Um dia...

segunda-feira, julho 05, 2004

Behind the Wall

Last night I heard the screaming
Loud voices behind the wall
Another sleepless night for me
It won't do no good to call
The police
Always come late
If they come at all

And when they arrive
They say they can't interfere
With domestic affairs
Between a man and his wife
And as they walk out the door
The tears well up in her eyes

Last night I heard the screaming
Then a silence that chilled my soul
I prayed that I was dreaming
When I saw the ambulance in the road

And the policeman said
'I'm here to keep the peace
Will the crowd disperse
I think we all could use some sleep'


Tracy Chapman





Eufo(ria) 2004

No último mês, Portugal saiu do pessimismo em que estava mergulhado, esqueceu os problemas, e passou a viver para o futebol. Apoiar a selecção justificava tudo! Desde promessas a Fátima, a tapetes de flores. O portugueses aprenderam o Hino, e fizeram das cores da bandeira as cores nacionais.
Este pequeno bocado de terra, perdido algures na Península Ibérica, não pensou na crise, no desemprego, no custo de vida, nos problemas da Justiça, na crise política, etc...
Hoje acordamos da ilusão, de vivermos num país maravilhoso, para vivermos a realidade, somos o país com o pior custo de vida U.E., e sem muitas possibilidades de melhorar a situação.
Passamos da Euforia à tristeza, a que já estávamos habituados. Agarrámo-nos ao futebol, como se fosse a única coisa que nos pudesse dar o minímo de alegria. Tal como acontece com os países do 3º mundo.

Eu gostei do Euro 2004, mas ser patriota não é só apoiar a selecção...

sábado, julho 03, 2004

Obrigada Rui!

Rui Costa anunciou hoje que vai abandonar a Selecção Nacional:

"Vai ser o meu último jogo na selecção. Vou sentir muitas saudades. Foram muitos anos, muitos estágios. Saio contente com tudo o que fiz. Se tudo correr bem amanhã, saio da melhor forma".

Sim sai da melhor forma. Foi considerado durante muito tempo, e quando Zidane jogava na mesma posição, o melhor número 10 de Itália. Ganhou vários títulos, fez tudo por tudo pela selecção, mesmo quando ela se «abrasileirou», e andou sempre acompanhado pela dignidade (o que não acontece a todos).

Ainda me lembro de quando saiu do Benfica...
Lembro-me da saudade que deixou o jogador, e a pessoa. E lembro-em também da promessa... Espero que se cumpra.

Obrigada por Lisboa, por Riade, e (espero que outra vez) por Lisboa.


Reverência do destino

Falar é completamente fácil, quando se tem palavras em mente que expressem a sua opinião.
Difícil é expressar por gestos e atitudes o que realmente queremos dizer, o quanto o queremos dizer, antes que a pessoa se vá.

Fácil é julgar pessoas que estão a ser expostas pelas circunstâncias.
Difícil é encontrar e reflectir sobre os seus erros, ou tentar fazer diferente algo que já fez muito errado.

Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir.
Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso. E com confiança no que diz.

Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre esta situação.
Difícil é vivenciar esta situação e saber vivê-la.

Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando algo o deixa irritado o que fazer. Ou ter coragem para fazer...
Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente te conhece, te respeita e te entende. E é assim que perdemos pessoas especiais.

Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos camuflar.
Difícil é mentir para o nosso coração.

Fácil é ver o que queremos enxergar.
Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto. Admitir que nos deixamos levar, mais uma vez, isso é difícil.

Fácil é dizer "oi" ou "como vai?"
Difícil é dizer "adeus". Principalmente quando somos culpados pela partida de alguém de nossas vidas.

Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados.
Difícil é sentir a energia que é transmitida. Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa.

Fácil é querer ser amado.
Difícil é amar completamente só. Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois. Amar e se entregar. E aprender a dar valor somente a quem te ama.

Fácil é ouvir a música que toca.
Difícil é ouvir a sua consciência. Acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas.

Fácil é ditar regras.
Difícil é seguí-las. Ter a noção exata de nossas próprias vidas, ao invés de ter noção das vidas dos outros.

Fácil é perguntar o que deseja saber.
Difícil é estar preparado para escutar esta resposta. Ou querer entender a resposta.

Fácil é chorar ou sorrir quando der vontade.
Difícil é sorrir com vontade de chorar ou chorar de rir, de alegria.

Fácil é dar um beijo.
Difícil é entregar a alma. Sinceramente, por inteiro.

Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida.
Difícil é entender que pouquíssimas delas vão te aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro.

Fácil é ocupar um lugar na caderneta telefônica.
Difícil é ocupar o coração de alguém. Saber que se é realmente amado.



Fácil é sonhar.


Carlos Drummond de Andrade



(Desculpa Cláudia, mas não resisti a «roubar-te» este post. Tinha de o ter aqui. Espero que me perdoes.)

Espera

Dei-te a solidão do dia inteiro.

Na praia deserta, brincando com a areia,

No silêncio que apenas quebrava a maré cheia

A gritar o seu eterno insulto,

Longamente esperei que o teu vulto

Rompesse o nevoeiro.


Sophia de Mello Breyner Andresen 1919 - 2004

sexta-feira, julho 02, 2004

Para Quê Votar?

Por MIGUEL SOUSA TAVARES

Vamos começar pela memória, porque esta gente detesta a memória, como todos os que vivem na oportunidade e não na coerência. Há uns anos atrás, quando o seu futuro político não ia além da função de animador sazonal dos congressos do PSD - e onde todo o seu pensamento político se resumia à patética reivindicação da herança de Sá Carneiro e do "PPD/PSD" -, Santana Lopes prestou-se (mediante "cachet", presumo) a fingir que era primeiro-ministro de Portugal, num programa da SIC chamado "A Cadeira do Poder", genial invenção do animador Albarran. No jogo - onde ele adoptou aquela postura grave de "estadista", que às vezes lhe ocorre sob os holofotes da televisão - acabou, aliás, derrotado por Torres Couto. Passados uns tempos, e quando os seus diligentes serviços de propaganda pessoal (sustentada pelos contribuintes) nos propunham acreditarmos na sua grande obra política que era a de plantar umas palmeiras na praia da Figueira da Foz, o mesmo Santana Lopes, indignado - e justamente, diga-se - com um programa da mesma SIC onde era pessoalmente achincalhado, pediu uma solene audiência a Jorge Sampaio para lhe comunicar, "urbi et orbi", que abandonava para sempre a política portuguesa.

Não foi preciso esperar muito para constatarmos que aquilo que era suposto ser a sério - o abandono da vida política - tornou-se numa brincadeira e o próprio indignado Santana Lopes acabou a trabalhar para a mesma SIC que tanto o havia ofendido. E se o que era para ser a sério se transformou numa brincadeira, o que não passava de uma brincadeira - Santana Lopes a primeiro-ministro - ameaça hoje tornar-se numa coisa séria. Parece um pesadelo e, no entanto, é um país: o nosso.

O que mudou? A progressiva degenerescência do pessoal político, a progressiva indisponibilidade dos competentes e dos sérios para servirem na política e habitarem no mesmo mundo onde habitam os Santana Lopes, os Jardins, todos aqueles para quem o poder é a única fonte de legitimidade e o único objectivo da política, todos os que, à boca cheia ou à boca pequena - como Paulo Portas ou tantos outros dentro do PSD e do PP -, falavam dele em tom de comiseração e hoje estão dispostos a, sem um estremecimento de vergonha, tratá-lo por "Senhor primeiro-ministro" e negociarem com ele fatias do grande festim de benesses que sempre acompanhou a carreira política do personagem.

Este é o homem, recordo, que, de todas as vezes que se propunha para presidente do PSD, tratava de deixar claro que não seria candidato a primeiro-ministro - tamanha era a convicção própria da sua absoluta incompetência e descredibilização para o cargo.

2. Reza a história que Pedro Santana Lopes e Durão Barroso se conheceram em pleno PREC, nos bancos da Faculdade de Direito de Lisboa. Um era protofascista, o outro maoísta - o que para nós, democratas, implica uma quase fatal atracção mútua. Ambos acabaram por encontrar o seu espaço e o seu destino comum nessa nebulosa de ideologias e de gestão de interesses que é o mal-chamado Partido Social Democrata. Ao ler a manchete do PÚBLICO do último sábado ("Durão segue para Bruxelas e oferece governo a Santana"), senti que ao país acabava de ser servido, e pronto a consumir, o desenlace de uma história privada de dois personagens que já foram íntimos, já foram desavindos e adversários, e agora são cúmplices na forma ligeira como entre si põem e dispõem dos destinos do país.

E senti-me, como qualquer português que se preze (o que é diferente de andar para aí a passear a bandeirinha...), enxovalhado, abusado e traído. Julgo, salvo melhor opinião, que vivemos ainda em democracia. E, em democracia, os governantes são votados e são despedidos pelo voto dos eleitores. Alguns dos eleitores votaram em Durão Barroso para primeiro-ministro e outros votaram em Santana Lopes para presidente da Câmara de Lisboa. Confesso que fiquei espantado, mas foi isso mesmo que aconteceu. Com que legitimidade política o primeiro abandona agora o cargo de primeiro-ministro a meio do mandato e só porque lhe apareceu coisa melhor e mais fácil, e o segundo abandona a câmara da maior cidade do país, deixando-a positivamente de pantanas, para receber o lugar vago que o outro lhe ofereceu? É assim que se fazem as coisas - vota-se em Durão para primeiro-ministro e leva-se com Santana e vota-se em Santana para a Câmara de Lisboa e leva-se com alguém que ninguém conhece? Porque haveremos então de votar, da próxima vez?

3. O destino pessoal de Durão Barroso é, de facto, notável. Faz lembrar o Pacheco, do Eça, subindo, subindo sempre, como o "menor denominador comum". Ei-lo que chega ao topo da hierarquia europeia depois de, há umas semanas atrás, ter sido o governante mais derrotado nas eleições europeias e de ter sido, há mais de um ano, o grande fautor de desunião da Europa, de cujo futuro fez tábua rasa pelo prazer de poder tratar por "George" aquela luminária do lado de lá do Atlântico. E chega lá porque pertence ao grupo dos governantes do centro-direita europeu (ele, supostamente social-democrata), porque fala francês, porque dá garantias de assegurar uma presidência fraca contra os fortes, porque preferiu para si a glória sem interesse nacional de ser presidente da Comissão do que o interesse de ter um português como comissário numa pasta decisiva. E porque revelou um respeito pelos eleitores portugueses que lhe confiaram a chefia do Governo em tudo diferente da de outros seus colegas, como o primeiro-ministro do Luxemburgo - todavia, ao contrário de Durão Barroso, recente vencedor das eleições europeias no seu país...

Lembrem-se: há três semanas atrás, na noite em que vinha de encaixar a maior derrota eleitoral de sempre do centro-direita em Portugal, Barroso olhou-nos olhos nos olhos e disse-nos. "Entendi a mensagem dos portugueses e prometo mais e melhor trabalho."

Lembrem-se: este era o homem que acusava Guterres de ter fugido, quando este, na sequência de uma derrota em autárquicas bem menor do que a de Barroso nas Europeias, se demitiu - como aliás o próprio Durão Barroso exigiu - para que o eleitorado dissesse se ainda confiava na maioria então governante.

Lembrem-se: este era o homem que, há pouco mais de um mês, fez aplaudir de pé, no congresso do partido, a sua ministra das Finanças, cuja política ele defendia como patriótica e que os "big spenders" do partido acusavam de ter grandes perigos eleitorais. E que agora se dispõe a deixar cair sumariamente a mesma ministra, vista como um empecilho para o estilo de governação do seu sucessor e, logo, como um empecilho para o arranjinho que deixou preparado.

O "interesse nacional", que ele tanto gosta de invocar a propósito de tudo e de nada e que agora usa como justificação para a sua escandalosa deserção, transforma-se em escárnio quando todos podemos observar como, desde sábado passado, o primeiro-ministro em fuga anda feliz, contente e aliviado.

4. E Jorge Sampaio, perguntam todos? Jorge Sampaio tem um problema que só ele próprio conseguiria inventar, com esta fobia dos consensos e de fugir às crises, como se elas não pudessem ser virtuosas, clarificadoras e - como é o caso - higiénicas. Jorge Sampaio não pode descalçar a bota por meios que a Constituição não permita. Mas pode fazê-lo por qualquer meio que a Constituição não proíba, e entre esses está o uso das suas convicções políticas, dentro do quadro dos seus poderes constitucionais. Jorge Sampaio foi eleito com base em determinado programa político e por isso é que uma parte do eleitorado - a esquerda - votou nele e a direita não. Pode e deve continuar a ser Presidente de todos os portugueses no que se refere à salvaguarda da Constituição, do funcionamento das instituições e da garantia de direitos iguais para todos. Mas não deve, mesmo que possa, trair o programa e as ideias políticas com base nas quais uma maioria de portugueses lhe confiou o cargo. Os que votaram Sampaio não aceitam este golpe de Estado palaciano congeminado na Rua de Buenos Aires. O país não se decide assim, em "petit comité" de usufrutuários do poder. Se o Presidente, nesta hora, não vê claro o que há-de fazer, não percebo para que haveremos também de continuar a votar num Presidente. Só faltava agora ficarmos a pensar que, com Cavaco Silva na presidência, Santana Lopes não chegaria ao poder com esta leviandade palaciana.

Hoje no Público.

Eleições Imediatas

Por CORREIA DE CAMPOS


Bem pode o primeiro-ministro demissionário alardear apelos ao PSD para respeitar a decisão presidencial. Insensível ao efeito devastador da instabilidade que criou, transfere para o Presidente a responsabilidade de manter um Parlamento politicamente esgotado, a cada dia que passa menos identificado com o sentir do povo. Os poucos jornalistas que parece ter arregimentado, nem a Constituição haviam inicialmente lido, induzindo o público na noção de que tudo se passaria como mera remodelação. Confesso que, por surpresa, quase me senti tentado pela solução. A hipótese de o novo primeiro-ministro sair do actual Governo, como havia sucedido após o desaparecimento de Sá Carneiro, parecia natural.

Quando surgiu o nome do virtual sucessor, de súbito fez-se-me luz. Pensei no imbróglio das eleições municipais, ainda com investigação pendente na Procuradoria-Geral; na luminosa solução do casino, em grandiosa arquitectura urbana, logo depois dissolvida em três ou quatro alternativas, cada uma mais inconsistente; nos prédios entaipados, sem demolição nem remodelação; nos embargos coercivos para lisboeta ver; no estacionamento caótico para não desagradar a eleitor automobilizado; no circo Rock in Rio, já contratado para nova ocasião pré-eleitoral; no túnel parado, nos incómodos já criados, na ligeireza e arrogância de não haver projecto prévio, nem estudo de impacte, nem orçamento realista, nem implicações de segurança estudadas.

Reconheço, certamente, o charme que lhe roja aos pés velhas glórias do teatro e que cativa intelectuais genialmente caprichosos, invejo a displicente preparação perante os "media", sem necessariamente fazer muito má figura. Admito que a pública imagem da pessoa divirta e anime, mas não basta para dirigir o país. A menos que o país directamente diga que o deseja. Ou que o homem assuma o partido e entregue a outrem o Governo.

A questão da confiança prevalece sobre a pretensa legitimidade formal. O dirigente partidário pode bem ser designado, mas confrontar-se-á com uma cada vez mais forte maioria de portugueses que nele não confia, não aceita o método e explicitamente declara preferir eleições antecipadas. Um coro de protestos surgiu do bloco central mediático. Líderes de opinião, insuspeitos de simpatia socialista, que energicamente demoliram Guterres há dois anos, não poupam reservas e recusas. Senadores da República, antigos dirigentes da direita, do alto da sua respeitabilidade de décadas de serviço público, asseveram-nos que a consulta popular directa será a melhor solução. Membros do cessante Governo, responsáveis pelo que de melhor e pior nele se fez e até aqui venerados na coligação, não podiam ser mais vocais na rejeição. Respeitados dirigentes do seu próprio partido, embargados em recusa liminar, transferem para um congresso interno a designação de um responsável.

Aceitaremos como continuação do anterior, um Governo que nada terá a ver com ele? Trocaremos a clarificação imediata pelo formalmente tolerável, mas substancialmente arriscado? Aceitaremos o benefício de uma dúvida que certezas anteriores confirmam, criando a necessidade de dispendiosa cirurgia radical, em futuro incerto, mas fatalmente próximo?

A questão não é formal, é política. Escolhemos em devido tempo quem confiadamente pode garantir estabilidade e segurança. É nas horas difíceis que se mede a têmpera dos homens, conceito que inclui o equilíbrio e a coragem, a moderação e o arrojo, a bonomia e a frieza.

Durão Barroso, já partido para outra, bem pode insinuar acordos inexistentes. Mesmo que tenha tomado a nuvem por Juno, a situação muda a cada dia.

Felizmente, seis séculos nos separam do grito "acudam ao paço, que matam o mestre". O mestre venceu, reinou, casou com uma princesa de Inglaterra e dela houve altos infantes. Os infantes desta hora serão as oportunidades ganhas pela energia refrescante de eleições imediatas.

Hoje no Público.

Obviamente, Dissolva

Por IVAN NUNES


1. O regime político em que vivemos hoje tem sido por vezes caracterizado como "semi-presidencialismo de primeiro-ministro", para evidenciar a supremacia do governo e do seu líder, que se apresenta sempre a eleições como "candidato a primeiro-ministro" (ainda que formalmente o não seja). A Constituição dá obviamente latitude para várias soluções quando a chefia do governo fica intempestivamente desocupada. Mas nem tudo o que é constitucionalmente admissível é em todas as circunstâncias politicamente admissível. A Constituição fornece o enquadramento, não fornece a decisão. Quem quiser defender a ausência de eleições antecipadas desta vez, terá que o defender com argumentos políticos - não jurídicos.

2. Os mais desembaraçados comentadores políticos da direita assinalam que Durão "troca o Alverca pelo Manchester United" e que o país deve agradecer-lhe por isso. Aparentemente, não se deram conta de que aquilo a que chamam "o Alverca" é o próprio país. Historicamente, trata-se de uma escolha inédita: nunca ninguém abandonou o cargo político mais importante do seu país para presidir ao órgão não-eleito da União Europeia, a Comissão. O Financial Times (26.6.04) assinala a propósito que é a "relativa obscuridade" de Durão Barroso, "um dos líderes europeus menos conhecidos", o que lhe permite ter-se tornado o candidato do consenso. E acrescenta: "os Estados prestam homenagem retórica à ideia de que é necessária uma Comissão forte (...) mas na prática poucos toleram receber instruções de Bruxelas." A glória de que Portugal se cobre com isto é evidentemente imensa.

De um certo ponto de vista, creio que Durão Barroso está congenitamente talhado para o lugar: testa-de-ferro de uma burocracia não-eleita, procurando compromissos mas sendo de facto mandado por outros. A sua experiência no PSD e no governo comprova que Durão era a figura que vários sectores aceitavam por não estarem dispostos a submeter-se a Santana Lopes, e que Santana tolerou por saber que se tratava de um obstáculo facilmente contornável; não fosse o buraco do Marquês, e o projecto presidencial de Santana - um projecto de liderança carismática, não o de um presidente corta-fitas - continuaria prosseguindo alegremente o seu caminho. Mas hoje mesmo os comentadores discutem na televisão a saída do primeiro-ministro como se ela implicasse uma remodelação governamental, e não a formação de um governo novo - tanto no plano jurídico como no plano substantivo. Deve ser esta a marca da liderança de Durão Barroso: como primeiro-ministro, é remodelado.

Francamente, não me surpreende que a este líder acidental apetecesse, nos seus devaneios íntimos, fugir do partido, que não controla, e do país, que não melhora, para se tornar no presidente de uma burocracia internacional que não tem de ser eleita; já que tenha o descaramento de procurar efectivamente concretizar o devaneio é bastante espantoso. Mas diz-se agora que Barroso colocou ao Presidente da República, como condição para assumir o cargo europeu, a não-dissolução da actual Assembleia; e que o Presidente estaria disposto a aceitar a condição, a não convocar eleições, para não ter que assumir o ónus da eventual perda "para o país" do glorioso cargo europeu. Que o Presidente da República admitisse chantagens sobre aquilo que é o núcleo essencial dos seus poderes seria verdadeiramente inaudito.

Se Barroso quer ir, que vá; o país não deve nem pode ficar refém das suas "condições".

3. Na televisão, o director do Público chega a afirmar que, embora formalmente o Conselho Nacional do PSD tenha poder para designar um novo líder e candidato a primeiro-ministro, lhe parece que do ponto de vista da legitimidade política é necessário um congresso. Não umas eleições gerais - um congresso do PSD. A ideia de que o próximo governo tenha de esperar por um congresso do PSD, mas, em nome da "estabilidade" política, não possa depender de novas eleições gerais é verdadeiramente peregrina.


Hoje no Público.

quinta-feira, julho 01, 2004

Coisas certas, até Pacheco Pereira as diz...


1 - Esta crise política foi completamente inesperada. Bom, é da natureza de algumas crises. Mas esta foi inesperada por um único e exclusivo factor subjectivo: deveu-se a uma decisão de um homem, que introduziu efeitos de profunda perturbação na vida política portuguesa. O homem foi-se embora, os efeitos estão connosco.

2. O compromisso de Durão Barroso com os portugueses não era “soft”, era “hard”. Era forte e feio e duro. Foi feito numa eleição difícil, ganha à tangente, foi feito pelo risco de uma coligação que tinha e tem os seus problemas. Foi feito numa situação que o primeiro-ministro sempre caracterizou como sendo de emergência nacional, gerada pelas políticas de descalabro do PS. Foi feito para um Governo que ofereceu dificuldades aos portugueses, dizendo-as absolutamente necessárias, patrióticas, e que sempre disse que não governava para eleições. Foi feito sem recuo.

3. O convite a Durão Barroso é resultado de fraquezas partilhadas e não da força da Europa. Essa fraqueza já lá estava, está no senhor Chirac, a chegar ao fim dos seus dias de poder, está no senhor Schroeder, batido como ninguém nas últimas eleições europeias, está no senhor Blair, enfraquecido pelo Iraque. Está no último decénio de contínuo défice democrático da Europa, está nessa obra-prima de mistificação política que é a “Constituição” europeia, está no desinteresse europeu cada vez maior pelo Parlamento, está nas derrotas quase inevitáveis dos referendos (Dinamarca, Holanda, Suécia) das posições mais europeístas, está na inanidade flagrante da política externa e de defesa europeia, está nos impasses crescentes que mostram a incapacidade da Europa para resolver os seus problemas colectivos. Durão Barroso foi escolhido porque todos estes impasses impedem uma outra escolha. Não tem sentido comparar esta situação com a de Delors, porque pura e simplesmente Delors era francês, podia sempre ter a França com ele, e a Barroso não adianta ter Portugal, se quiser ultrapassar as condicionantes de “mínimo denominador comum” do seu convite.

4. Dito isto, o convite é também importante e pessoalmente honroso para Durão Barroso. O facto de ter esta origem e estas circunstâncias não minimiza o outro facto, que é os chefes de governo europeus considerarem que ele é capaz para um posto tão difícil como o de presidente da Comissão. Isso é mérito próprio. De qualquer modo, bom sucesso.

5. Sugerido o convite, José Manuel Durão Barroso devia ter dito não. Devia ter pensado no seu azar de estar no local errado (no Governo português), no tempo errado (depois de uma derrota eleitoral, a meio do mandato, sem estabilidade na sucessão), e, com legítima pena e grande sacrifício pessoal, ter dito não. Devia ter dito: “Honra-me muito o vosso convite, mas não tenho condições para aceitar neste momento difícil do meu país.” Devia ter pensado: “Os que me têm apoiado nesta tarefa árdua de pôr em ordem o meu país não podem ser abandonados.” Devia ter pensado: “Fiz promessas tão claras aos portugueses que não tenho face para agora me ir embora, todos vão pensar que fugi.” Devia ter pensado e certamente pensou. Mas “José Barroso” acabou por dizer sim.

6. José Barroso poderá fazer alguma coisa por Portugal, mas muito pouco. Se ultrapassar este pouco, haverá controvérsia europeia, forte e feia. O lugar de presidente da Comissão é literalmente patrulhado, em primeiro lugar, pelos primeiros-ministros europeus, depois pelo Parlamento Europeu, que entende que deve parlamentarizar a Comissão, e ainda pela imprensa mais hostil à UE, que a há muita. A sua margem de manobra pró-portuguesa é escassa. Se se queria reforçar a posição e os interesses de Portugal, era na luta por um bom pelouro para o comissário português, na escolha de um bom comissário, e na acção de um primeiro-ministro português no Conselho, que se conseguia. É aí que se jogam quase todos os interesses nacionais legítimos e com condição de eficácia. Neste jogo, que vai agora começar, o facto de o presidente da Comissão ser português pode ser contraproducente, jogar contra uma margem de negociação forte na distribuição de pelouros. Quem conhece a Europa real sabe que ninguém dá a qualquer país almoços grátis, e Portugal já comeu uma parte do almoço a que tinha direito. Dirão eles.

7. Depois, a herança que Barroso deixou ao país chama-se Santana Lopes, um partido moldado à imagem de Santana Lopes, um governo PPD-PP, muito mais à direita que o que Barroso permitia ser o seu, e uma inflexão de política que inevitavelmente (sublinho, inevitavelmente) vai dar cabo do pouco que se tinha conseguido. Aqui entra um logro e quase uma traição. Barroso fez grande parte da sua carreira partidária contra Santana Lopes, muitos dos seus apoios vinham de pessoas que consideravam que ele era, no partido, a melhor barreira contra um tipo de liderança populista que contrariava a identidade política que pensávamos ter Durão Barroso. Para muitos, era claro que votar Barroso era votar contra Santana Lopes, e se havia “barrosismo” era este o seu sentido político.

8. E por isso me sinto traído, como aliás muita gente que talvez não o diga com esta clareza. Porque há várias coisas de que eu tenho a certeza. Eu não votei nas últimas legislativas no Governo que aí vem. Eu não votei nas últimas legislativas numa coligação PSD-PP, muito menos num governo PPD-PP. Eu não apoiei Durão Barroso para me sair Santana Lopes. O voto, mesmo para os intelectuais e “comentaristas”, como se diz agora com desprezo, não tem nenhuma sofisticação especial. O voto, aliás, tem essa virtude de ser simples e inequívoco, uma escolha. E eu, como muita gente no PSD e no país, nunca fiz a que agora me querem impor. Este é o “golpe de Estado” de que fala Manuela Ferreira Leite. Tem a ver com a substância, não com os estatutos.

9. Qual é o problema de Santana Lopes?, podese perguntar. Respondo por mim. Nada me move pessoalmente contra Santana Lopes, que tem até qualidades pessoais que me agradam, e de que não tenho queixa qualquer no trato, mas tudo me move politicamente contra Santana Lopes. Não temos, aliás, que nos surpreender com o que será Santana Lopes primeiro-ministro, porque ele antes de o ser, já o foi. Foi-o, com toda a convicção, num concurso de faz de conta, num programa de televisão chamado Cadeira do Poder, de Albarran, ganho aliás por Torres Couto.

10. A palavra “populismo” é correcta para caracterizar a sua acção política, embora ela já seja usada de forma tão genérica que parece que são populistas todos os que ganham eleições. O seu populismo vê-se no conjunto de toda a sua acção política, desde a Secretaria de Estado da Cultura e nas funções políticas e autárquicas que exerceu, e quase sempre com os mesmos resultados: pouca obra, muito espectáculo, clientelas pessoais dedicadas, alimentadas com benesses dirigidas a alvos muito específicos, de preferência escolhendo sectores mais vocais (como no caso do teatro), habilidade comunicacional associada a um investimento muito cuidado na comunicação social, no marketing, na publicidade, nenhuma correlação entre o dinheiro gasto e a obra realizada. No meio de tudo isto, uma forte personalização da acção política, apoiada essencialmente na televisão, onde Santana Lopes sabe que os “apareçómetros” são transformados em “barómetros”.

11. O problema do populismo é que gera mau governo. Os populistas governam mal, e não é por razões conjunturais, é por razões estruturais: o seu populismo impele-os para políticas espectaculares, pouco consistentes e normalmente caras. Um exemplo típico do que estou a dizer é o caso do Parque Mayer, onde todos os defeitos de uma governação populista emergem com clareza. Santana Lopes prometeu em campanha que iria renovar o parque Mayer e devolvê-lo à cidade, assente num investimento no teatro de revista, destinado a “salvá-lo” da extinção. Pode-se pôr em causa o gosto de Santana Lopes por uma forma de teatro popular, que conheceu um processo de decadência natural e de mudança de públicos, ou de novo a lógica clientelar no teatro, mas não é preciso sequer ir por aí.

12. A sucessão do que se passou diz tudo sobre o “modus operandi” de Santana Lopes. Em Março de 2002, garantia ao “Correio da Manhã” que o “Parque Mayer estará a funcionar em Agosto”. Depois, nesse Setembro, com base no projecto do arquitecto Norman Foster, que haveria um novo Parque Mayer em 2004. Depois, apareceu a hipótese do jogo, do casino, e novo anúncio em Outubro de que as obras começariam em Dezembro de 2002. Depois, começou a saga do casino. O casino pagaria a renovação do Parque Mayer, mas depois verificou-se que havia mil e uma dificuldades urbanísticas e legais. O casino afinal ia ser “enterrado” no parque, em Fevereiro de 2003, e iria para o Cais do Sodré em Abril de 2003, e depois para a Feira Popular. Saliente-se que grande parte destes anúncios, com títulos de caixa alta, é do próprio Santana Lopes. Ainda não está em lado nenhum.

13. De repente, e num gesto muito típico do populismo, Santana Lopes tira do bolso a decisão de ir buscar o arquitecto Frank Ghery. Como dizia a “Visão”, Ghery foi o “pacificador” e os nossos intelectuais e artistas calaram-se, como habitualmente acontece quando se gasta dinheiro e se fazem coisas emblemáticas do seu (deles) valor simbólico. Em finais de 2002, Santana anuncia a contratação de Frank Ghery e o projecto para Maio de 2003. Ninguém fez a pergunta óbvia: onde é que se ia buscar dinheiro? Se tivessem ido ao Guggenheim de Bilbau, mesmo que fosse só de fora, teriam alguma dúvida de que as espectaculares esculturas urbanas do arquitecto seriam outra coisa que caríssimas? Em Abril de 2003, já o que se sabia do projecto de Ghery contrariava tudo o que fora dito, e as promessas inicias de Santana Lopes. Já os teatros afinal podiam ir para a Feira Popular, o Casino idem. “Custos elevados do projecto impedem a fixação de lojas e escritórios”, escrevia a “Capital”. Depois, finalmente, descobriu-se que o projecto de Frank Ghery era caro. Em Outubro de 2003, titula a “Capital” “Santana Lopes sem dinheiro para arquitecto”. Hoje, em Junho de 2004, continua tudo bloqueado.

14. Tudo o que caracteriza uma política populista está aqui retratado: decisões pessoais erráticas, apoiadas mais na necessidade de fazer anúncios à imprensa ou contrariar opositores do que no estudo dos problemas, encomendas apressadas, mudanças de última hora, encravamento geral de todo o processo por falta de atenção às condições legais e financeiras. Alguém tem uma ideia de quanto tudo isto já custou ao Município de Lisboa, sem qualquer resultado palpável? Certamente muitos milhões. O resultado vai ser a mais cara fotografia jamais feita em Portugal, a que ilustra o livro de Santana Lopes sobre a “cultura”, Santana Lopes e Ghery mudando Lisboa. É assim que eu não quero que Portugal venha a ser governado. É assim que o será? Não sei. Está escrito nas estrelas.


Pacheco Pereira
hoje no Público

Há dias assim...

Carta

Não falei contigo
com medo que os montes e vales que me achas
caíssem a teus pés...
Acredito e entendo
que a estabilidade lógica
de quem não quer explodir
faça bem ao escudo que és...

Saudade é o ar
que vou sugando e aceitando
como fruto de Verão
nos jardins do teu beijo...
Mas sinto que sabes que sentes também
que num dia maior serás trapézio sem rede
a pairar sobre o mundo
e tudo o que vejo...

É que hoje acordei e lembrei-me
que sou mago feiticeiro
Que a minha bola de cristal é feita de papel
Nela te pinto nua
numa chama minha e tua.

Desconfio que ainda não reparaste
que o teu destino foi inventado
por gira-discos estragados
aos quais te vais moldando...
E todo o teu planeamento estratégico
de sincronização do coração
são leis como paredes e tetos
cujos vidros vais pisando...

Anseio o dia em que acordares
por cima de todos os teus números
raízes quadradas de somas subtraídas
sempre com a mesma solução...
Podias deixar de fazer da vida
um ciclo vicioso
harmonioso do teu gesto mimado
e à palma da tua mão...

É que hoje acordei e lembrei-me
que sou mago feiticeiro
e a minha bola de cristal é feita de papel
Nela te pinto nua
Numa chama minha e tua.


Desculpa se te fiz fogo e noite
sem pedir autorização por escrito
ao sindicato dos Deuses...
mas não fui eu que te escolhi.
Desculpa se te usei
como refúgio dos meus sentidos
pedaço de silêncios perdidos
que voltei a encontrar em ti...

É que hoje acordei e lembrei-me
Que sou mago feiticeiro...

...nela te pinto nua
Numa chama minha e tua.

Ainda magoas alguém
O tiro passou-me ao lado
Ainda magoas alguém
Se não te deste a ninguém
magoaste alguém
A mim... passou-me ao lado.

Toranja

Nunca como agora

Nunca como agora a chama da Esperança se reacendeu.
Nunca como agora o orgulho, vindo directamente do Olimpo, encheu os nossos dias.
Nunca como agora estas palavras ecoaram tão alto.


I
Heróis do mar, nobre Povo,
Nação valente, imortal
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memória,
Ó Pátria, sente-se a voz
Dos teus egrégios avós,
Que há-de guiar-te à vitória!

Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!

II

Desfralda a invicta Bandeira,
À luz viva do teu céu!
Brade a Europa à terra inteira:
Portugal não pereceu
Beija o solo teu jucundo
O Oceano, a rugir d'amor,
E o teu braço vencedor
Deu mundos novos ao Mundo!

Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!

III

Saudai o Sol que desponta
Sobre um ridente porvir;
Seja o eco de uma afronta
O sinal de ressurgir.
Raios dessa aurora forte
São como beijos de mãe,
Que nos guardam, nos sustêm,
Contra as injúrias da sorte.

Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!

Música: Alfredo Keil
Letra: Henrique Lopes de Mendonça


Sim, eu sei já enjoa a recente onda de patriotismo. E sim, isto é tão típico do 3ºmundo. Há mais na vida para além de futebol, para além do Euro. Mas, sobre isso falarei noutra altura.
Agora apetece-me mesmo festejar! E agradecer à equipa de Riade-Lisboa!

Orgulho nacional

«Mr Barroso is one of the least known of EU leaders, but his relative obscurity has allowed him to emerge as a compromise candidate». Financial Times

«Un líder frágil en su país, pero valorado en la UE». El Mundo

«Le Premier ministre portugais avait soutenu le couple franco-allemand contre la Commission en novembre 2003, pour «mettre entre parenthèses» le pacte de stabilité de l'euro et ainsi échapper aux sanctions pour déficit excessif (...) Bref, il a tout du candidat idéal même si personne ne sait précisément quelles sont ses idées sur le futur de l'Europe...» Liberation