Para os que ficam
Acalma-me acreditar que os que partem vão para um lugar melhor, deste onde nos encontramos.
A imagem da perda é muito dura. Não consigo pensá-la como um fim. Antes o começo de uma qualquer etapa, que eu não sei como é.
Quando passam os meus dias de Alberto, e a minha procura por uma verdade definida e perfeita, procuro os que partiram.
Encontro o meu avô nos desenhos animados que víamos juntos. Sei que está sempre sentado na ponta do sofá, pronto para me contar uma história.
A minha bisavó Cença passeia-se pela casa, como se marchasse. Ficou-lhe o hábito da infância, por ter sido criada por um republicano. É sempre ela que abre a porta quando ajudamos alguém.
Todos os dias oiço o barulho do meu avô Carlos a escrever à máquina. O pai dele é a pessoa de cachimbo, que anda sempre carregada de livros, a discutir um mundo diferente.
O meu trisavô vive nas memórias da República. É esse princípio, o de um estado laico e igualitário para todas as classes, a origem das nossas ideias cá em casa.
Sei que sempre que caio me amparam as quedas. Estão sempre aqui. Ao pé de mim.
Para C.
3 Comments:
:)
bonito texto, mesmo para um bisneto de monárquicos... :P Convertido ao Republicanismo!
Muito bonito! Isso é que é a eternidade_ ser lembrado pelos que ficam! beijos linda.
:) sinto o mesmo...todos os dias!
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