“Na educação os weblogs podem vir a ganhar mais importância”
António Granado é jornalista de Ciência do Público e autor do weblog “Ponto Media”, criado em Janeiro de 2001. Professor assistente convidado da licenciatura em Jornalismo na Universidade de Coimbra desde 96, foi também docente da mesma licenciatura durante um ano na Universidade Nova de Lisboa. É formador do curso de Jornalismo Digital no Cenjor. Actualmente em Leeds a fazer o doutoramento, assina uma coluna no Público de sábado e escreveu, em parceria com Elisabete Barbosa, um dos primeiros livros portugueses sobre weblogs : Weblogs – Diário de Bordo
1- Existem várias definições de weblog. Qual é a sua?
Um weblog é uma página web que é actualizada frequentemente e que tem entradas datadas que aparecem por ordem inversa à que foram escritas.
2- Porquê Diário de Bordo como pós-título para Weblogs?
O livro foi escrito a meias, totalmente na internet. Quando nos encontrámos pela primeira vez já o livro estava todo escrito. Andámos à procura de um título e pensámos em jogar com a palavra weblog. O log vem de diário de bordo dos barcos. Como é um livro introdutório achámos melhor chamar-lhe Diário de Bordo em pós-título porque, de alguma maneira, se relaciona com weblogs e dá ideia de um tema pequeno.
3- Qual a importância dos blogs na sociedade portuguesa?
Os weblogs tiveram um grande publicidade quando, no ínicio do ano passado, em Abril, o eurodeputado Pacheco Pereira, uma pessoa com muito espaço nos media, criou o seu próprio weblog. E, ao começar a falar sobre weblogs o fenómeno aumentou muito. Neste momento, os weblogs têm algum espaço nos media. Já se percebeu que, no que diz respeito a pessoas mediáticas, se pode ir buscar opiniões ao weblog. Mas são um fénomeno reduzido a uma faixa muito estreita da população, tendo tendência para aumentar.
4- A explosão da blogoesfera deu-se em momentos marcantes da história, como o 11 de Setembro ou a Guerra do Iraque. Considera que este facto está relacionado com a característica pessoal que os define?
Sim, tem a ver com essa característica pessoal: permitir a qualquer pessoa sem acesso aos media tradicionais publicar o que pensa. Resulta da vontade das pessoas darem a sua opinião sem estarem à espera dos media.
5 – Quais são os momentos mais importantes da evolução da blogoesfera no seu todo?
O momento mais importante terá sido a criação do blogger que permitiu às pessoas criarem weblogs. Havia pessoas que tinham um weblog, mas que não tinham uma ferramenta para a actualizar.
6- Considera que já existe uma comunidade de bloggers em Portugal?
Já existe uma comunidade considerável. Mas é preciso colocarmo-nos numa perspectiva de fora, olharmos para a sociedade portuguesa e vermos que há uma fatia muito estreita que tem weblogs ou que sabe o que é um weblog. Só a nata, uma camada muito estreita da população, é que tem direito a ter internet e pode dar-se ao luxo de actualizar o seu weblog em casa.
7 – No campo do jornalismo, como vê a interacção entre jornalistas e leitores através de blogs?
Acho que os weblogs são uma forma interessante de os jornalistas receberem feedback dos seus leitores. Se muitos jornalistas criarem weblogs é muito complicado saber se a empresa tem ou não direito de exigir exclusividade ao jornalista. E sem reflexão nenhuma, sem brainstorming, estas questões são complicadas. E sem essa reflexão tenho tendência a achar que os jornalistas não devem ter weblogs, apesar de contra mim falar. Por uma razão: quando esses weblogs podem competir com o seu trabalho. No meu entender a distinção entre weblog e jornal deve ser clara.
8 – Criou-se uma nova forma de jornalismo através de blogs?
Acho que o jornal ainda é uma coisa diferente. O que eu faço no meu weblog são chamadas de atenção. De vez em quando, há alguém que dá uma dica, mas não existe um blog noticioso. Ninguém está a competir para dar notícias.
9 – Considera que os órgãos de comunicação social deveriam ter blogs?
Eventualmente sim. De forma a que não prejudique o trabalho do jornal.
10- Os blogs jornalísticos tiram espaço aos jornais digitais?
Acho que é difícil tirar espaço aos jornais digitais devido à questão da credibilidade. Não é um weblog que tira espaço aos jornais digitais, é preciso um weblog que ganhe credibilidade. E para uma pessoa sozinha construir credibilidade é muito complicado, porque não tem a capacidade de um jornal.
11 – No sector da comunicação empresarial, os blogs são uma hipótese a considerar. Em que aspectos?
Uma empresa pode utilizar os weblogs para dar a conhecer aquilo que faz e, inclusivamente, servir como ponto de agregação de potenciais clientes. Outra hipótese é criar weblogs virados para a comunicação interna, para o seu funcionamento, onde toda a gente possa partilhar informação sobre a empresa, seus produtos e as empresas concorrentes.
12 – E na área da educação?
É uma área onde faz muita falta e onde penso que vamos ter a maior expansão. Os professores ainda não descobriram que os weblogs são uma ferramenta muito potente para a comunicação e, ao mesmo tempo, têm a vantagem de poder entusiasmar os alunos. Há várias maneiras de utilizar os weblogs. Os weblogs de professores, onde o professor se auto-organiza, discute com os colegas e faz trabalhos com os alunos. Os weblogs dos alunos podem servir para discutir temas, para serem avaliados pelo professor, para dar a conhecer o meio onde trabalham. Os weblogs trazem uma vantagem para os jornais escolares que muitas vezes não se fazem por causa dos custos, como plataforma gratuita de publicação na web que chega a muito mais gente.
13 – No seu livro fala de exemplos universitários. Fale-me um pouco dessas experiências.
A primeira experiência foi a da Universidade do Minho, onde criaram um weblog chamado “Jornalismo e Comunicação”, um dos principais nesta área, feito por alunos e professores de mestrado. Colocam links para histórias publicadas nos jornais e publicam estudos sobre os media. Depois há o jornalismo “Porto Net” que é um weblog conjunto da licenciatura em Jornalismo e em Comunicação da Universidade do Porto. Desse weblog surgiram weblogs satélites especializados, que se chamam de blogs jornais.
14 – Quais são as vantagens dos blogs no ensino, em especial no universitário?
Uma primeira vantagem: os alunos vêm que o seu trabalho não é uma coisa interna, só para consumo deles e do professor. Entendem aquele trabalho como algo que os outros podem ver e isso é importante. É importante que os alunos exponham os seus trabalhos e estejam sujeitos a críticas. Do ponto de vista do professor também é muito importante que esses trabalhos sejam colocados na web, porque isso faz com que o plágio seja menor. Depois, os weblogs podem ajudar as pessoas a organizar-se, porque é muito importante que as pessoas aprendam a escrever sem erros e o facto de escreverem num weblog fá-las ter mais cuidado.
15 - Os blogs tem inúmeras variantes: jornalismo, educação, comunicação empresarial. Qual é para si a mais importante?
Considero que são todas importantes. Provavelmente na educação, área pouco explorada, os weblogs podem vir a ganhar mais importância. É claro que são importantes weblogs especializados em diversas áreas, mas acho que é muito importante que as faculdades e as escolas secundárias apostem mais nessa área, na utilização dos weblogs como ferramenta na sala de aula.